domingo, 17 de janeiro de 2010

A EDUCAÇÃO

A EDUCAÇÃO

A educação é o conjunto dos hábitos adquiridos e das orientações recebidas. Educar, portanto, é formar hábitos, e educar para o bem é formar hábitos bons.

Nos registros históricos da Humanidade, encontramos inúmeras anotações sobre os esforços dos homens para lograr as chamadas “reformas sociais”. Desde que entendeu o valor da vida grupal e que a família se constitui em importante célula da sociedade organizada, os indivíduos de formação humanística elaboraram procedimentos, estudos e leis, e fomentaram movimentos, no sentido de conceder aos grupos humanos, aspectos positivos de vida cristã.

Inesquecíveis movimentos sociais libertários se destacaram na História, a exemplo da Revolução Francesa, ocorrida em 1789, cujo lema era “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, se constituiu na trilogia de ideais reformistas de bem-estar das pessoas. Conceitos socialistas-marxistas promoveram na Rússia e em outros países da Europa, a Revolução do Proletariado, mesmo com as distorções praticadas no afã de libertação do ser humano.

Após as grandes guerras mundiais, as nações do mundo buscaram unir-se na conquista de soluções para as disparidades sociais, da crise da fome, da violência, do abuso do poder. Em 1945 surgiu a Organização das Nações Unidas (ONU), e posteriormente, outras instituições, com notáveis finalidades de alcance social, entre elas a preservação do meio ambiente, afetado por ações precipitadas e egoísticas do ser humano. Contudo, todo esforço para alcançar as reformas sociais, tem sido muitas vezes alvo de fracasso, para desilusão de idealistas e da população mundial.

Muitos perguntam: - Como solucionar tão graves problemas? Entendemos que, enquanto se procurar a reforma social sem a indispensável e profilática reforma moral, inúteis serão os esforços. Isto porque, a alavanca da reforma moral chama-se educação...

A propósito, conta-se que Licurgo, célebre orador e político ateniense, que viveu entre os anos 396 a 323 A/C., fora certa ocasião, convidado para falar sobre Educação. Ele aceitou o convite, com a condição de lhe concederem três meses de prazo... Findo esse tempo, apresentou-se ele perante numerosa e seleta assembléia, que aguardava, ávida de curiosidade, a palavra do consagrado tribuno. Licurgo se apresentou trazendo consigo, dois cães e duas lebres. Ele então soltou a primeira lebre e um dos cães. A cena foi chocante e bárbara. O cão avançou furioso sobre a lebre e a despedaçou. Ele então voltou a soltar a segunda lebre e o outro cachorro. A surpresa foi geral, porquanto o cachorro passou a brincar amistosamente com a lebre. Ambos se afagavam mutuamente.

Ergueu-se, então Licurgo na tribuna e concluiu, dirigindo-se ao seleto público: “Eis aí o que é a educação”. O primeiro cão é da mesma raça e idade do segundo Foram tratados e alimentados em idênticas condições. (Mas, qual a diferença entre eles?) A diferença é que um foi educado e o outro não; ele foi deixado aos seus instintos primários. Educar, disse então Licurgo – é criar hábitos considerados saudáveis. Educar é desenvolver as aptidões inatas da criatura que, estando adormecidas, devem ser dirigidas para o bem geral. Educar, é preparar a pessoa para realizações nobres, concluiu ele.

Com essa assertiva, Allan Kardec enfatiza então que, as raízes das atitudes comportamentais atormentadoras e agressivas, individuais e grupais, são originárias do modo de ser, adquirido em outras existências terrenas, que teria de ser “reformadas” ou “reeducadas”. Para isso, somente a educação logrará êxito.

Relatório da Comissão Especial da ONU para a Educação, Ciência e Cultura, sob a coordenação do educador francês Jacques Delor, intitulado: “Educação, um Tesouro a Descobrir”, valioso documento norteador para as pessoas, instituições e nações que vêem na ação educacional o caminho real para o progresso das sociedades e da Humanidade, apontam os quatro pilares de uma educação para o século XXI: - Aprender a Conhecer; Aprender a Conviver; Aprender a Fazer; e Aprender a Ser – visando à revolução e renovação sociais que o mundo deseja: 1- Aprender a conhecer a existência de Deus; a sua ação providencial no mundo e a amá-lo acima de todas as coisas; 2- Aprender a conviver com o seu próximo, amando-o como a si mesmo; 3- Aprender a fazer o seu destino voltado para o bem, para não sofrer as conseqüências pela “lei de causa e efeito”; 4- Aprender a se conhecer como um Espírito imortal em constante evolução por vontade própria...

Vivemos num mundo atrasado, onde a grande maioria de seus habitantes admira e busca o que os seus sentidos elegem como conquistas a realizar; a notoriedade, a riqueza, o luxo, o prazer, a posição social e todos os valores da existência material. Entretanto, considerando que somos um ser imortal, Espírito eterno, que está atualmente ligado a um corpo material perecível, os verdadeiros valores a ser conquistados não estão no exterior, mas no interior de cada um: a inteligência e os sentimentos nobres, formadores do caráter.

O Cristo já havia ensinado há dois mil anos; também o Consolador por Ele prometido, vem ressaltar a necessidade da construção dos valores interiores, sem prejuízo do atendimento das necessidades materiais. Os seres humanos esqueceram sua condição de seres espirituais, para dar ênfase a tudo o que se relaciona com a existência transitória do corpo.

Todos os mensageiros do Alto, desde as mais remotas eras, tiveram a preocupação de lembrar a natureza espiritual do ser humano. Os ensinos do Mestre, ressaltaram a finalidade da existência presente e o caminho para o futuro, para o “reino dos céus” que se encontra dentro de nós mesmos. Por sua vez, o Consolador, a Doutrina dos Espíritos, mostra a vida futura do Espírito que deixa o corpo físico, no fenômeno que denominamos morte, para voltar ao mundo espiritual, às esferas que se destinam a acolher as almas das mais diferentes condições evolutivas. A compreensão dessa realidade retifica os erros e enganos resultantes de crenças milenares errôneas sobre a finalidade da existência na Terra e suas conseqüências.

Por outro lado, a realidade das existências sucessivas demonstra a verdade das doutrinas reencarnacionistas, conhecidas há milênios, mas rejeitadas pela igreja católica que substituiu a igreja cristã, após sua condição como religião oficial, e por outras denominações religiosas, com graves prejuízos para o conhecimento do positivo, da realidade. Esse roteiro resume-se na educação da mente e do coração e consiste na conquista dos conhecimentos e no aperfeiçoamento dos sentimentos; vale dizer, é o progresso intelectual e moral.

De acordo com as leis divinas, todos os seres humanos podem realizar esse objetivo de crescimento, através da educação. Falamos de educação como o processo e a realização dos objetivos superiores da existência. No atual estágio de muitas nações, inclusive o Brasil, confunde-se o conceito de educação com o de instrução. Assim o nosso Ministério da Educação, cuida, na realidade, da instrução do povo, oferecendo níveis de escola para o aprendizado das letras, dos números e das ciências, nos seus múltiplos aspectos.

Sabemos todos que a educação, durante a nossa existência terrena, inicia-se no lar, na fase do berço, quando as mães começam a passar aos seus bebês, os rudimentos de educação, além dos conhecimentos inatos trazidos de outras encarnações. A instrução é que começa a ser adquirida alguns anos depois, quando a criança inicia o aprendizado das primeiras letras e números, quando já entende e fala, porém, sem ter ainda qualquer conhecimento prático.

Não basta apenas o ser humano se instruir ou se especializar em determinadas atividades, se permanece moralmente atrasado, personalista, orgulhoso, insensível e egoísta. A mensagem de Jesus, se expressa principalmente em ensinamentos morais, por saber Ele que as pessoas se preocupavam mais com o aperfeiçoamento intelectual e encontravam maior dificuldade nas aquisições morais. Por isso, a educação tem sempre como parâmetro aquela mensagem, visando à renovação íntima e a reeducação de todos que despertam para as verdades eternas. Será através das idéias trazidas pelo Consolador, revivendo os ensinos de Jesus, que a Humanidade encontrará nova fase de progresso moral.

A reeducação com base na Nova Revelação, trazida para a era do Espírito, afastará as teorias negativistas, os dogmas, as doutrinas superadas, os mistérios, as superstições e todos os desvios da verdade, responsáveis em grande parte pelo atraso moral em que se encontra considerável parcela da população mundial. Assim, as verdades não surgem do exterior, mas crescem no íntimo de nós mesmos, quando existem esforços e vontade para se escolher o caminho certo da evolução.

A educação é obra difícil e de sacrifício em certo sentido, no espaço e no tempo, atendendo à Divina Sabedoria, por mais pesadas e espinhosas que sejam, recebendo as mais altas e belas lições. A prática da lei do amor, por exemplo, pressupõe um aprendizado prévio do Espírito que o conduz à modificação de sentimentos e hábitos. Essa transformação é obra de educação e um fator poderoso de progresso. Enquanto os estabelecimentos de ensino, representados pelas escolas em geral, preocuparem-se somente com a instrução, esquecendo a educação, e enquanto predominarem os erros pela influência tradicional e pelo materialismo, os seguidores do Consolador terão a responsabilidade de sustentar as verdades espirituais, na obra de reeducação, que haverá de produzir seus efeitos no futuro.

Todos os problemas da existência terrena terão soluções naturais quando o Espírito for reconhecido em sua natural condição, acima do corpo material, porque sobrevive a ele. O processo educativo, amparado no Evangelho de Jesus, será o grande fator na transformação dos hábitos humanos carregados de egoísmo e de orgulho, em novas vivências na fraternidade, na solidariedade, na caridade e na compreensão entre os seres humanos.

Compete à educação o mais relevante papel no progresso da civilização. Porém, os nossos sistemas pedagógicos não têm correspondido às suas legítimas finalidades. A julgar pelo conteúdo dos programas oficiais de ensino, os valores do sentimento continuam relegados a plano secundário ou esquecidos, como se o cérebro, que elabora a teoria, devesse viver divorciado do coração, que inspira a prática. A prova está em que, no período mais fecundo de nosso aprendizado que vai da infância à juventude, quando são máximas as nossas capacidades aquisitivas, tudo se faz por dotar-nos da maior soma de valores intelectuais, mas pouco ou quase nada se tem feito para demonstrar-nos a melhor forma de aplicá-los. De que nos tem servido saber corretamente a conjugação do verbo amar, se não nos ensinam a amar o nosso próximo? Para que nos tem servido aprender a operação de dividir, se não temos aprendido a dividir com os que sofrem, um pouco sequer de nossa felicidade?

Teoricamente, sabemos conjugar o verbo amar e efetuar a operação de dividir; mas, praticamente, só temos sabido odiar e subtrair. Compreendemos perfeitamente que a divisão, segundo as leis da matemática, é uma subtração sucessiva, mas o que ainda não compreendemos é que a divisão com os outros, segundo as leis do amor, é uma autêntica multiplicação de bênçãos.

Uma das mais nobres formas de trabalho de educação, é a desempenhada pelos pais na infância e pelos professores na fase de criança/adolescente. Quatro são as condições requeridas para a nobreza de tão alta função: 1- Amor; 2- Vocação; 3- Abnegação; 4- Boa-vontade... Nenhuma mulher deveria ter filho, ou o educador, ter permissão para ensinar, se não houvessem provado, por sua vivência, ser o amor a qualidade fundamental de sua natureza, porque somente uma mãe devotada e com amor, fará de seu filho um cidadão e um professor cheio de boa-vontade e vocação, atrairá seus alunos, para o aprendizado agradável.

O desenvolvimento do processo educacional da humanidade passou por várias etapas sucessivas e complementares, a saber: A Educação Clássica, grego-romana que formou o cidadão, vinculado à sua cidade e suas leis; que aprendeu a respeitar e conviver com o próximo numa comunidade urbana; a Educação Medieval, que formou o cristão, submisso ao Cristo e sujeito à igreja; a Educação Renascentista, que formou o gentil-homem, refinado na forma, sujeito às etiquetas e às normas sociais; a Educação Moderna, que formou o homem esclarecido, amante das ciências e das artes; a Educação Nova, que formou o homem psicológico do nosso tempo, ansioso por se libertar das dúvidas, do medo, das angústias e dos traumas psíquicos do passado, substituindo o confessionário pelo consultório do psicanalista e reduzindo a religião a mera convenção social.

Desse processo, resultou o homem de hoje, ainda buscando a própria cidadania, distante da fraternidade, (vide guerras, inclusive religiosas), apegado às etiquetas e formalismos exteriores, extremamente confuso e angustiado diante das possibilidades libertadoras que, intuitivamente, sente. O ser humano enfim, que ainda não sabe o que é, qual sua origem e o propósito de sua existência na Terra...

Segundo o IBGE, l/5 da população brasileira (36 milhões) é constituída de jovens entre 8 e 18 anos de idade. Destes, 50 mil estão cumprindo medidas sócio-educativas, impostas pela Justiça; outros 14 mil estão recolhidos em instituições (FEBEM) pretensamente destinadas a protegê-los e educá-los. Um número bem maior está freqüentando os bancos escolares públicos e privados, cujo relato de profissionais da educação, não permitem fazer para muitos deles, projeções otimistas. Muitos deles serão os futuros profissionais responsáveis por vidas e outros condutores do nosso País.

Vivemos tempos de desagregação e convulsões, já previstos por Jesus no Sermão Profético, em que os laços familiares se enfraqueceram, em virtude das pessoas estarem concentradas nas aquisições materiais. Não poderia ser diferente o que se passa com a educação no lar e com a instrução nos colégios. Os acontecimentos que estamos vivenciando, de nos estarrecer, estão de acordo com as nossas ações, pois, se não agimos negativamente, em função do nosso atraso espiritual, nos aproveitamos e nos solidarizamos com eles ao darmos audiência aos programas de baixarias, sem qualquer respeito à educação que deveria ser obrigação das emissoras. Onde está a censura e os juizados que não atuam no respeito à família e aos bons costumes?

Os valores morais e espirituais chegaram ao fundo do poço, e, se não fosse à intervenção divina, determinando o nascimento (reencarnação) de Espíritos mais evoluídos, para promoverem a reformulação do mundo, o caos em que nos encontramos seria pior. Estamos vivendo uma situação difícil, de aferição de valores, onde devemos priorizar os valores morais que nos livrarão de sermos levados de roldão pelas forças desagregadoras que atuam no mundo, ao saberem chegado o final dos tempos, do reinado do mal e de suas conseqüências. Transformações e acontecimentos nunca vistos estão se processando no mundo, para libertá-lo dos espíritos inferiores que ainda habitam entre nós, e prepará-lo para receber novos habitantes que farão deste, um mundo de regeneração, onde a educação será a mola propulsora da evolução.

Que o Senhor nos permita passar por essa turbulência sem afetar nossos valores.


Jc.

S.Luis, 13/1/1996

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