sábado, 13 de fevereiro de 2010

JESUS E OS EXCLUIDOS

JESUS E OS EXCLUIDOS

Atualmente fala-se muito dos excluídos da sociedade. Para entender essa situação, temos que voltar ao passado, e saber por que Jesus criou um sistema grupal para transmitir os seus ensinamentos.

Na época de Jesus, era comum na Palestina, a formação de grupos para defender uma causa ou o interesse comum dos seus componentes. Numa análise rápida dos principais grupos, evidencia-se para nós, o motivo pelo qual Jesus formou o seu próprio grupo de seguidores, que observavam as suas sentenças e buscavam o aprendizado e a vivência dos seus ensinamentos transferidos através das parábolas...

O primeiro grupo que avaliaremos será o dos Fariseus, cuja palavra originária do hebraico, significava separação, divisão. As características deste grupo eram: obediência cega à Lei Oral, a observância religiosa colocada acima do nacionalismo judaico, sendo servos das práticas exteriores do culto e das cerimônias; a pregação do proselitismo, mas não aceitavam inovações. Eles acreditavam na suprema sabedoria com que Deus conduz todas as coisas; acreditavam ainda na imortalidade da alma, na eternidade das penas e na ressurreição dos mortos, isto é, no surgimento de uma nova e definitiva vida, distinta e oposta à existência terrena.

O segundo grupo social importante era o dos saduceus, composto pelos sacerdotes do Templo. Eles eram descendentes de Zadoque, o grande sumo-sacerdote dos tempos de Davi, e tinham por base a afirmativa de que toda Lei deveria ser escrita e imutável. Tinham eles seu próprio texto adicional chamado o “Livro dos Decretos”, que estipulava um sistema de punição: - quem seria apedrejado, queimado, decapitado ou crucificado. Devido à rígida observância da Lei Mosaica, seu conceito de Templo como única fonte e centro do governo judaico, os levava à própria condição hereditária de suas funções. A direção do Templo era exercida pelo sumo-sacerdote que desempenhava as funções de um regente secular, e por um comitê de anciãos que formavam o Sinédrio, que desincumbiam-se dos deveres religiosos e legais. Eles não acreditavam na imortalidade da alma, nem na ressurreição, nem nos bons e maus espíritos.

O terceiro grupo importante era o dos essênios, formado pelo agrupamento de várias seitas milenares da orla do deserto. Tinham avançados sistemas de canalização em seus edifícios, para suas purificações ritualísticas, bem como sala de reuniões. A preocupação com a literatura era demonstrada pela presença de bibliotecas, cujos rolos com as coleções eram colocados em jarros escondidos em cavernas próximas. Possuíam costumes brandos e virtudes austeras; ensinavam o amor a Deus, a imortalidade da alma e a ressurreição. Outras características dos essênios eram o celibato, a condenação da servidão e da guerra, o cultivo da agricultura e uma estrutura social, onde os bens eram comuns a todos.

O quarto grupo social era o dos Zelotes, cujo nome vem da história de Finéas, no Livro dos Números. Ele salvou Israel da peste e, assim, se dizia ter sido “zeloso com seu Deus”. Os sicários eram elementos terroristas dos zelotes. Eles levavam adagas
escondidas e costumavam assassinar judeus colaboradores dos romanos...

Jesus, então iniciou a sua missão, convidando inicialmente os pescadores, homens excluídos da sociedade judaica, devido à observância da Lei, que afirmava ser o trabalho com animais, impuro diante de Deus. Portanto, eles não poderiam ser admitidos nos grupos dos fariseus, dos saduceus, dos essênios ou dos zelotes. Depois, Jesus avistou um publicano, coletor de impostos. De todas as imposições do governo romano, era o imposto, o que os judeus mais detestavam, colocando-o como questão religiosa, em virtude de ser contrário à Lei. Assim, aqueles que não conseguiam outras oportunidades de trabalho e que possuíam conhecimentos matemáticos, se empregavam como cobradores de impostos. Mateus ou Levi, era íntegro em sua vivência e Jesus o convidou para fazer parte do seu grupo. Veio depois o convite a outros e também a Simão, o zelote, que passou a ser um ex-zelote, citado nos Evangelhos.

Jesus, portanto, formou um grupo de pessoas excluídas da sociedade para demonstrar-nos o seu amor pelos humildes... Hoje não temos pescadores, publicanos, ex-zelotes ou mulheres do povo excluídos da sociedade, mas temos e os encontramos como desempregados, moradores de rua, idosos desamparados, usuários de drogas, vendedoras de sexo e menores abandonados. Para ajudá-los, devemos deixar de lado um pouco do nosso comodismo, que nos aprisiona na ociosidade, e amparar de alguma forma esses excluídos, atendendo ao chamado de Jesus, quando disse: “Tive fome e me destes de comer. Tive sede e me destes de beber. Era forasteiro e me recolhestes. Estive nu e me vestistes, doente e me visitastes, preso e fostes me ver.” – Então os justos lhe responderão: “Senhor, quando foi que fizemos tudo isso que não lembramos?” – Ao que Jesus lhes responderá: “Em verdade vos digo: Cada vez que o fizestes a um desses meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes”.

Assim, diante dos excluídos, sejamos simples e humildes, compreendo-os na posição em que se encontram. Sem sermos coniventes com o erro, devemos ter piedade para com nosso semelhante que precisa de nossa ajuda. Não vamos interrogá-lo sobre a causa de sua queda. Tenhamos a palavra de conforto e de esperança e comecemos com o exercício do amor ao próximo, ajudando-os no que for possível fazer, e, confiado na Bondade, Justiça e Misericórdia de Deus.

Também nenhum grupo permitia o ingresso de mulheres em suas fileiras, em virtude de não serem elas consideradas como “gente” pela estrutura social vigente naquela época. Mas, todos os evangelistas citam as presenças femininas marcantes junto ao Mestre Amado: Maria de Nazaré, sua mãe,; Maria de Magdala ou Madalena a vendedora de ilusões; Joana de Cusa; Maria mão de Tiago; Marta e Maria, irmãs de Lázaro, e tantas outras anônimas, que O acompanhavam em suas peregrinações.

João o apóstolo amado, nos afirma o seguinte: “Se alguém disser; amo a Deus e odeia o seu irmão, é mentiroso; pois quem não ama o seu irmão, a quem vê, não poderá amar a Deus, a quem não vê.” – Estendamos nossos braços acolhedores aos excluídos de hoje, para que amanhã, possamos também encontrar outros braços direcionados para nós, de acordo com a máxima que diz: “É dando que se recebe”. Diz César Reis que, se Jesus reencarnasse nos dias de hoje, encontraria a Terra profundamente necessitada de evangelização como outrora. Seu esforço de há dois mil anos produziu frutos magníficos, no entanto, se o ser humano avançou muito em tecnologia e em ciência, mas ainda precisa crescer moralmente.

Naquele tempo, Jesus mostrou a necessidade de se remodelar a sociedade humana, através da transformação individual. Ele iniciou sua vida pública, com o episódio das bodas de Caná, mostrando o significado da Sua presença transformadora. Muitos até hoje discutem o nascimento, o corpo, os milagres e a morte de Jesus. Mas, como Allan Kardec acentua, o que ninguém discute é a essência moral dos seus ensinamentos, que é o que realmente interessa. Assim acontece porque o ser humano perdeu o significado profundo das mensagens do Divino Mestre. Jesus hoje, reencontraria a Terra envolvida em injustiças sociais e egoísmo, apesar de ser muito grande o número dos que se dizem adeptos do Cristianismo, em suas variadas formas.

Bezerra de Menezes descreve, de maneira genial, o Cristianismo dos primórdios: “Na Casa do Caminho, se trabalhava durante todo o dia em favor dos necessitados. A Casa recebia os doentes, os miseráveis de toda ordem, os escravos e os necessitados. Os seguidores de Jesus tratavam das feridas, cuidavam dos famintos dando-lhes o alimento, assim como cuidavam das roupas. À noite, reuniam-se todos e os apóstolos contavam as passagens, os ensinamentos, as parábolas, os fatos da existência de Jesus. Era assim, com tocante pureza e simplicidade que aquelas pessoas davam o testamento da sua fidelidade ao Mestre Amado.” Depois, acrescenta Bezerra de Menezes, “os homens inverteram o processo. Construíram templos enormes e luxuosos, estabeleceram regras, dogmas, castas; colocaram-se como donos da lei, associaram-se aos políticos, influenciaram na economia e se tornaram detentores de grandes fortunas. O ensino de Jesus passou a se processar em templos fechados e muitas vezes, deturpado e sem exemplificação”.

A missão da Doutrina dos Espíritos é a volta à simplicidade, à exemplificação, ao testemunho, a fraternidade. Relembra a maneira antiga, mas sempre atual do Evangelho, porque não há outra fórmula que possa resolver os conflitos da existência atormentada das pessoas e as desigualdades sociais. Há necessidade da difusão dos Seus ensinamentos; a criação de núcleos evangélicos que assista e oriente a educação transformadora, que façam reviver os valores do amor, da caridade, que façam ressurgir a família como base da sociedade. Há necessidade de um grande esforço de regeneração, sobretudo para que cada pessoa busque a auto-educação.

Evangeliza-se a pessoa para evangelizar a família, para transformar a sociedade. É preciso formar a pessoa de bem, que somente será digna de tal nome quando praticar: A fraternidade – Jesus ensinou que somos todos filhos do mesmo Pai Celestial; portanto, somos todos irmãos; o respeito ao próximo – Jesus ensinou que aquilo que é nobre em nós é a presença divina, em todos, sem exceção; portanto somos todos igualmente importantes. Jesus ensinou ainda que a pessoa que busca a paz, sabe que a paz está dentro de si, que é o amor de Deus; a reforma íntima - Jesus ensinou que, para segui-lo, temos que nos esquecer de nós mesmos; vencer os velhos vícios, as emoções descontroladas; inevitavelmente temos que proceder à nossa reforma interior para que surja a pessoa nova; a caridade – Jesus ensinou que ela é o supremo instrumento de renovação: caridade só pode ser praticada por aqueles que têm amor; é a doação de sentimentos, é solidariedade, é pensamento de amor que se projeta no olhar, no sorriso, no gesto amigo de fraternidade; a busca da consciência – Jesus ensinou que a consciência é geradora de responsabilidade: somos espíritos imortais, em aprendizado, crescendo em cada existência; que hoje somos o resultado do que fomos ontem, e que a semeadura de hoje provocará a colheita obrigatória no amanhã, do que tivermos semeado.

Jesus, hoje, encontraria a Terra bem melhor do que há dois mil anos. Resolvemos de maneira brilhante os problemas da inteligência, mas ainda estamos muito longe de resolver os problemas da convivência fraterna. Jesus certamente está conosco, mas nós ainda não conseguimos estar plenamente com Ele. A principal causa disso é o egoísmo que se fundamenta sobre a importância da personalidade, do eu, desconhecendo os princípios da caridade. O egoísmo se caracteriza na pessoa, pela ausência do sentimento de fraternidade para com os semelhantes, excluídos ou não. A cobiça e a posse dos bens terrenos, leva o ser humano a se tornar insensível ao sofrimento alheio e ingrato até mesmo aos que lhe ajudaram a conseguir fortuna.

Há ricos e pobres porque Deus sendo justo, possibilita aos ricos a prova da fraternidade e da caridade, e aos pobres a prova da resignação e da humildade. È certo que algumas vezes nos perguntamos se Deus é justo em possibilitar a riqueza terrena a pessoas que fazem da fortuna, a exploração e a miséria dos seus semelhantes. O egoísta quer tudo só para si, e tudo faz para conseguir seus propósitos, nem que tenha de sacrificar a própria família, os amigos, empregados e outros que possa explorar. A verdade é que o ser humano vive em busca de uma forma de felicidade, correndo atrás de algo que nem sabe bem o que é, que termina gastando o seu tempo, sem se dar conta, porque a felicidade não é um objeto; encontra-se ela nas coisas simples da vida, como: o admirar o por do sol; a beleza da Natureza; o sorriso de uma criança; o abraço de um amigo; a manifestação de carinho de um familiar; o agradecimento de uma pessoa a quem beneficiamos, e muitas e muitas outras maneiras simples, que não damos o devido valor.

A nossa principal preocupação deve ser a de conseguir os bens imperecíveis da alma. Jesus nos ensinou: “Não andeis ansiosos pelo dia de amanhã. Buscai primeiramente o Reino de Deus, através do cumprimento das Suas Leis, da fé consistente, da oração, da caridade, e todas as outras coisas vos serão acrescentadas.” Que Jesus nos inspire a fim de que a simplicidade, o amor e a caridade sejam os atributos de nossa existência, conforme nos ensina a Terceira Revelação, que é a Doutrina dos Espíritos,
base complementar dos ensinamentos do Mestre Amado Jesus...

Que a Paz do Senhor, nos estimule ao amparo de nossos irmãos necessitados, sofredores e excluídos.


Bibliografia:
Evangelho de Jesus
Livro “Boa Nova”

Jc.
Refeito em 14/12/2004

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