domingo, 7 de março de 2010

ESQUECIMENTO DAS EXISTÊNCIAS PASSADAS

ESQUECIMENTO DAS EXISTÊNCIAS PASSADAS

Na questão 392 de “O Livro dos Espíritos”, Allan Kardec pergunta: “Por que perde o espírito encarnado a lembrança de seu passado? – Resposta dos Espíritos Superiores: “Não pode e nem deve o ser humano, saber tudo. Deus assim o quer em sua sabedoria. Sem o véu que lhe oculta certas coisas, ficaria ofuscado, como quem, sem transição, saísse do escuro para o claro. Esquecido do seu passado o ser humano é mais senhor de si mesmo.”

Dentre os obstáculos interpostos para a compreensão, o entendimento e a aceitação da reencarnação como verdade irrecusável que é, encontra-se o questionamento feito com freqüência, sobre o fato de não nos lembrarmos das existências anteriores. Vários e numerosos são os argumentos explicativos sobre essa deliberação divina para cada retorno à existência corporal, podendo-se citar, do ponto de vista científico, o seguinte: O momento exato da reencarnação ocorre quando da fecundação do óvulo feminino, mas, precedendo esse momento tão especial, onde a atuação divina se faz presente, muitas outras ações são necessárias, no Plano Espiritual.

No livro, “Missionários da Luz”, de André Luiz, são descritas de forma clara, no capítulo que trata da reencarnação de Sigismundo. A ligação fluídica do reencarnante com os futuros pais implica na perda dos contatos que consolidou na esfera espiritual; dos quais é necessário que se desfaça, para penetrar com êxito, a corrente da existência carnal. Por interveniência da espiritualidade, atuando através de poderosa carga magnética, é procedida uma redução do corpo perispiritual do reencarnante, até que sua forma se assemelhe à de um bebê. Os espíritos induzem a vontade do espírito reencarnante, através de mensagens de incentivo: “Imagine sua necessidade de tornar a ser bebê para aprender a ser um homem”.

O instrutor espiritual Alexandre informa: “Necessário diga-se, que o procedimento de restringimento do perispírito, não é o mesmo em todos os processos reencarnatórios. Há espíritos de grande elevação que, ao voltarem à esfera mais densa da Terra, em apostolado de serviço e iluminação, quase sempre dispensam o nosso concurso. Outros espíritos, contudo, procedentes de zonas inferiores, necessitam de operação mais complexa, como o caso de Sigismundo.” O mentor Emmanuel, no livro “Religião dos Espíritos”, oferece novas luzes sobre este assunto, dizendo: “Aceitando uma nova existência corpórea, para determinado efeito, o espírito recebe energias físicas, cerebrais, e, para que se lhe adormeça a memória, funciona a hipnose natural como recurso básico, de vez que, em muitas ocasiões, dorme em letargia, muito tempo antes de acolher-se ao útero materno. Na melhor das condições, quando o espírito desfruta de grande atividade mental nas esferas superiores, só é compelido ao sono profundo, durante o tempo fetal. Em ambos os casos, há prostração psíquica nos primeiros sete anos, em que ele está mais envolvido com a vida espiritual e também devido a instrumentação e desenvolvimento fisiológico, tempo esse em que se desliga da espiritualidade e que se lhe reaviva a experiência terrestre.

Temos assim, no mínimo 270 dias aproximados de sono induzido ou hipnose terapêutica, a estabelecerem enormes alterações no corpo do espírito, as quais, acrescidas às conseqüências dos fenômenos naturais de “restringimento do corpo espiritual”, no refúgio uterino, motivam o entorpecimento das recordações de existências passadas, para que a mente fique aliviada, na direção de novas aquisições.

Do ponto de vista moral, o Codificador Allan Kardec enumera as principais razões para o esquecimento do passado: 1º-Razão: As perturbações da existência, no lar e na sociedade. Se o reencarnante reconhecesse as pessoas a quem havia odiado, talvez o ódio reaparecesse; sendo certo que ficaria humilhado perante quem houvesse ofendido. Devemos acrescentar que o reencarnante, normalmente, volta no mesmo círculo de relacionamento da existência anterior. Como seria o relacionamento entre pai e filho, se um reconhecesse no outro, seu assassino de existência passada? As conseqüências seriam desastrosas para ambos.

No livro “Nosso Lar” de André Luiz, o espírito que foi sua mãe na última encarnação, comunica-lhe que deverá partir para nova existência terrena, quando então será, novamente, esposa de Laerte, seu pai carnal, o qual no plano espiritual, acha-se em zona de trevas, ainda obsidiado a duas entidades femininas, suas amantes na última existência. Dizia ainda o espírito da mãe de André Luiz, que iria receber as duas entidades (amantes) como suas filhas, na futura existência, para harmonização. Convenhamos: Sem o esquecimento do passado, como seria o relacionamento dessas três criaturas em família?

2º-Razão: O maior mérito em praticar o bem e exercitar o livre-arbítrio: Em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, no capítulo V item II, encontramos a orientação: “Deus nos deu, para nos melhorarmos, justamente o que necessitamos e nos é suficiente: a voz da consciência e as tendências instintivas. O ser humano, trás ao nascer, tudo o que adquiriu em existências anteriores. Ele nasce exatamente como se fez ou era antes. Cada existência é para o espírito um novo ponto de partida. Leon Denis, no livro “O Grande Enigma”, lembra-nos a citação evangélica: “Infeliz aquele que, pondo a mão na charrua, olhar para trás.” Efetivamente, neste mundo de provas e expiações, onde o peso das dificuldades, às vezes, abate a maior vontade, se fossem somados ou lembrados os equívocos do passado, a criatura não poderia cuidar de seu progresso, sendo um obstáculo à sua evolução.

Quantas ocorrências nesta existência somos levados a esquecer, propositadamente, para liberar a nossa vontade e mente de agir. Neste caso, como nos outros, o esquecimento é estímulo ao progresso. Com muito mais razão, é justo que seja promovido o esquecimento das existências anteriores, onde os erros, possivelmente, serão tão mais marcantes. Ainda no livro “Nosso Lar”, o espírito de D. Laura, informa a André Luiz que lhe fora permitido o acesso ao registro de suas anteriores reencarnações, até o limite de 300 anos, porque mais do que isso, não suportaria. Leon Denis, no livro “O Problema do Ser, do Destino”, informa: “é necessária à ignorância do passado para que toda a atividade de ser humano se consagre ao presente; para que se submeta à lei do esforço e se conforme com as condições do meio em que renasce.”

3º-Razão: A justiça da lei de ação e reação: Muitos são os que se insurgem contra o determinismo divino para a existência. Às vezes, enfermidades surgem, confinando aos leitos, pessoas de comportamento ilibado e benévolo, numa ocorrência aparentemente inexplicável, diante da Justiça Divina. Indaga-se: Por que? – Pela lei, a explicação encontra-se em outra existência, que é onde a culpabilidade se acha. Então, se paga na existência atual por culpa de outra existência? – No livro “Solar de Apolo”, o espírito de Vitor Hugo menciona o fato de um delinqüente cometer um crime e, depois de algum tempo, esquecer a perversidade cometida. Por essa razão, ele deixa de merecer as penas da lei, por ter esquecido? – Leon Denis, indaga: “Se um criminoso condenado pelas leis humanas, cai doente e perde a memória de suas ações, segue-se daí que sua responsabilidade desaparece ao mesmo tempo que as suas lembranças?”

4º-Razão: Recordações humilhantes e orgulhosas. Diz ainda Leon Denis: “Todos os criminosos da História, reencarnados para expiar seus crimes, seriam desmascarados; as vergonhas, as traições, as perfídias, as iniqüidades de todas as encarnações seriam de novo colocadas à nossa frente.” – Com que proveito? Se tivéssemos tido uma existência de grandes realizações no bem; tais fatos não funcionariam como impeditivos à nossa evolução, ao nos sentirmos orgulhosos por tal comportamento? – Em “Obras Póstumas”, Allan Kardec faz excelente observação a respeito, no item “O Caminho da Vida”: “Que proveito pode o homem tirar de suas existências anteriores?” – A Doutrina dos Espíritos responde que a lembrança de existências desgraçadas, juntando-se às dificuldades da existência presente, ainda mais penosa se tornaria esta última. Desse modo, poupou Deus às suas criaturas um acréscimo de sofrimentos. Se assim não fosse, qual não seria a nossa humilhação, ao saberem os outros, o que já fomos? Para o nosso melhoramento, aquela recordação seria inútil. Durante cada existência, sempre avançamos adquirindo algumas qualidades e nos despojando de algumas imperfeições. Cada uma das existências, é, portanto, um novo ponto de partida, sem nos preocuparmos com o que tenhamos sido.”

5º-Razão: Os preconceitos raciais, sociais e religiosos. – Sabemos que prevalecem em nosso mundo os preconceitos. Imagine-se as criaturas tendo lembranças de terem sido de outra raça; de terem sido integrantes de famílias nobres ou extremamente humildes; de terem credos religiosos diferentes; de ter sido judeu na existência anterior e renascido como palestino; de ter sido irlandês católico e na atual ser um inglês protestante? – No livro “Renúncia” de Emmánuel, encontramos uma frase que encerra toda uma filosofia a respeito de esquecimento das existências passadas: ”Sem a paz do esquecimento transitório, talvez a Terra deixasse de ser uma escola de trabalho abençoado, para ser um ninho abominável de ódios e vinganças perpétuas.”

A Doutrina dos Espíritos nos ensina que examinando as nossas aptidões e inclinações, podemos deduzir de nosso passado e buscar elementos para reestruturar e melhorar nossa condição. Mais ainda: não é somente após a desencarnação que o espírito terá recordações de suas outras existências. Muitas vezes, quando Deus julga útil, permite ao espírito, durante o sono, que tenha lembranças fragmentadas de outras existências. Mesmo não recordando totalmente delas ao acordar, as manterá no campo psíquico sob a forma de reflexos e condicionamentos positivos, que, nos momentos oportunos, podem ser preciosos elementos de auxílio na tomada de decisões corretas. São as “Reminiscências Construtivas” de que nos informa Martins Peralta, no livro “O Pensamento de Emmánuel”, concluindo: “Embora vagas, constituem incentivo e sustentação para o espírito em nova existência, considerando-se valiosa ponte entre o Ontem e o Hoje, na áspera caminhada para o Amanhã.”

Deus dá aos seus filhos tantos instrumentos, melhor dizendo, existências, quantas sejam necessárias para que cumpram suas missões e evoluam. Alguns descrentes alegarão: “Se assim fosse, certamente nos lembraríamos da nossa existência anterior, ou das nossas existências passadas.” Há fatos que ocorrem na nossa existência e que não temos a mais leve recordação. Por exemplo: Nesta existência, alimentamo-nos no seio materno e não nos recordamos desse ato. Mesmo depois de adultos decoramos uma lição, um verso, uma poesia ou um discurso e no correr do tempo, esquecemos das palavras das frases e até do assunto. O esquecimento do passado é necessário ao nosso bem-estar presente e ao nosso progresso. Se todos conservassem a lembrança das existências passadas, ficaríamos conhecendo não só a nossa existência anterior como também a dos outros que nos cercam. E o que resultaria daí? – A existência de todos ficaria devassada para uns e outros. Herodes ou Caifás, por exemplo, se estivessem em nosso meio, teria de suportar o ódio e o desprezo de todos, e quem sabe se não lhes seria negado o pão? Como ficaria a nossa situação, se os outros viessem a saber que fomos um dos que martirizaram a Jesus, ou que participamos da morte de algum apóstolo ?

Para evitar esses constrangimentos foi que Deus em seu determinismo não permite que nos recordemos de nossas existências passadas. Entretanto, existem pessoas que se lembram não só da sua existência anterior, como até de outras existências que tiveram na Terra.

A Drª Helen Wambach, PHD em psicologia, utilizando-se do processo de regressão de memória, conseguiu reunir importante acervo de dados científicos acerca dos antecedentes do ser humano. Seu trabalho, aplicado em 750 pessoas, consistia em fazer o paciente regredir até a fase intra-uterina, quando então fazia algumas perguntas básicas. Os resultados foram surpreendentes.. Eis algumas: a)- 87% das pessoas consultadas em regressão, declararam haver conhecido seus pais e amigos atuais, de uma outra existência anterior; b)- 90% delas, lembravam-se das mortes anteriores e que estas, foram experiências agradáveis, mas que os nascimentos, constituiram momentos de desventuras; c)- 81% dos pacientes disseram que eles próprios haviam decidido renascer; d)- Disseram eles que quanto a objetivos ou planejamento para a existência presente, não foi observado nenhum projeto especial de desenvolver talentos ou faculdades; mas, “prioritariamente, aprender a relacionar-se com os outros em paz e amor, sem ser exigentes ou possessivos.”

Complementando tudo o que já foi dito, nos servimos do livro “A Gênese”, no capítulo XI itens 20 e 21 que diz: “Desde que o espírito é preso pelos laços fluídicos que o liga ao corpo, a perturbação se apodera dele, e nos últimos momentos o espírito perde toda a consciência de si mesmo, de sorte que ele geralmente nunca é testemunha de seu nascimento na Terra. No momento em que o bebê passa a respirar, o espírito recobra as suas faculdades que se desenvolvem, à medida em que se formam e se consolidam os órgãos que devem servir a ele. E, ao mesmo tempo em que o espírito recobra a consciência de si mesmo, ele perde a lembrança de seu passado, sem perder o vínculo com a espiritualidade e as faculdades, as qualidades e as aptidões que vão desabrochar para ajudá-lo a fazer mais e melhor do que fazia anteriormente. Aqui ainda se manifesta a bondade do Criador, porque a lembrança do passado, frequentemente penoso, poderia perturbá-lo ou entravá-lo; ele só se lembra daquilo que aprendeu e que lhe será útil na existência.

Entretanto, quando retorna à espiritualidade, o seu passado, incluindo a última existência, se passa como um filme no cinema, para sua ciência, e ele julga se empregou bem ou estacionou na sua jornada terrena. Não há, pois, descontinuidade na vida espiritual, apesar do esquecimento do passado, quando na Terra,; o espírito é sempre o mesmo, antes, durante a existência terrena e depois dela; sendo a reencarnação uma fase especial de aprimoramento da sua eterna existência, voltada para o amor. . .



Que a Paz, a harmonia e a saúde sejam as companheiras de todos nós.




Bibliografia:
Livro “Missionários da luz”
“ “Religião dos Espíritos”
“ “Nosso Lar”
“ “O Grande Enigma”
“ “O Problema do Ser e do Destino”
“ “Solar do Apolo”
“ “Obras Póstumas”
“ “Renúncia”
“ “O Pensamento de Emmanuel”
“ “A Gênese”

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