quinta-feira, 3 de junho de 2010

O ESPIRITISMO E OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO

O ESPIRITISMO E OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO

A comunicação, principalmente através das revistas, cinema e televisões, vem dando destaque atualmente, à Doutrina dos Espíritos, por meio de entrevistas, reportagens, filmes e novelas. Para termos uma idéia das reportagens e dos conceitos espíritas que são levados às populações, menciono algumas revistas com matérias sobre o Espiritismo, assim como filmes e novelas que tratam do assunto, e que despertam a curiosidade das pessoas.

Entre outras publicações, cito a revista “Veja, edição nº 1651, 1659 e 1904; revista “Isto É”, edição nº 1489, 1524, 1780 e 1918; revista “Época” nº 131, 261 e 424. Quantos aos filmes, mencionamos alguns: “Ghost – O Outro Lado da Vida”, “O Sexto Sentido”, “Os Outros”, “A Casa Mal Assombrada”, “A Casa dos Espíritos”, “A Revelação”, “O Mistério da Libélula”, “O Enviado”, “Os Espíritos”, “Reencarnação”, “Sinais”, “Visões”, “Vozes do Além” e outros. Sobre as novelas, lembramos das últimas: “O Outro Lado da Vida”, “A Viagem” e “Almas Gêmeas”.

O importante, não é a população se tornar espírita, pois o Espiritismo não tem nos seus postulados, fazer proselitismo, como é feito em outras religiões, mas que as pessoas tomem conhecimento dos conceitos e ensinamentos espíritas, que são a continuação dos ensinos de Jesus, possibilitando a melhora do ser humano, através da sua reforma moral e da prática da caridade, pois esta é a missão da Doutrina dos Espíritos – a evolução dos Espíritos encarnado na Terra.

Entretanto, essa situação nem sempre foi assim. E, para que as pessoas tomem conhecimento das perseguições sofridas pelo Espiritismo e seus adeptos, movidos pela imprensa, há alguns anos atrás, vamos nos servir de outra revista, abordando a campanha de descrédito, de desmoralização e de ofensas, não só ao Espiritismo como também aos médiuns, pela revista “O Cruzeiro”, de grande projeção nos meios de comunicação da época, de propriedade do império jornalístico do Sr. Assis Chateubriand, seu proprietário, revista essa que não existe mais e nem mais é lembrada, enquanto que a Doutrina dos Espíritos, por ser de origem divina, continua a se expandir e espalhar benefícios a todos os que necessitam.

Essa foi à época da “prova de fogo” que tinha de passar o Espiritismo, em terras brasileiras, a exemplo do que aconteceu na Espanha, quando foram queimados em praça pública, por ordem do bispo da Igreja Católica da cidade, os Livros Espíritas. Passemos então, ao assunto que ocasionou a contenda entre o jornalista, Jorge Rizzini e a revista “O Cruzeiro”.

Na edição do programa de televisão “Vídeo-Show” do dia 10/11/1990, foi relembrada a atuação que a revista “O Cruzeiro” teve como veículo de informação durante décadas; a exemplo do que acontece atualmente com as revistas “Veja” e “Isto É”, que me fez relembrar os acontecimentos, razão porque resolvi fazer este artigo do que aconteceu. Naquela época, a referida revista, apresentava grandes reportagens, assinadas por famosos repórteres, como David Nasser, Jean Manzon, entre outros. Também era conhecido o jornalista Jorge Rizzini, espírita, médium e polemista, que foi convidado pelo apresentador Maurício Gama, responsável pelo jornal da TV-Tupy canal 4 de São Paulo, em 1952, a dar uma entrevista sobre o Espiritismo. A entrevista foi curta, mas como a TV-Tupy já penetrava em outros estados, causou um constrangimento no clero católico, que atribuía os fenômenos mediúnicos, por maldade ou ignorância, à figura folclórica do diabo.

Em 1961, Jorge Rizzini voltou a apresentar na mesma TV-Tupy, um filme que ele realizou mostrando as cirurgias mediúnicas realizadas pelo médium Zé Arigó, em Congonhas do Campo-MG. O impacto da filmagem foi tremendo junto à população. Nunca se havia visto um fenômeno espiritual tão contundente. As reportagens de Moacir Jorge, em seguida, nos “Diários Associados”, puseram mais lenha na fogueira, como se diz na gíria. Os outros jornais e as revistas passaram então a divulgar os fenômenos, uns contra difamando o médium e outros a favor.

Como era de se esperar, padres, pastores e médicos vieram a público e os debates acalorados, surgiram na televisão. Zé Arigó era discutido nos lares, nas ruas, nos escritórios e nas fábricas. Por esse tempo, já corria na justiça, um processo contra Zé Arigó, por prática ilegal da medicina. Jorge Rizzini, como espírita e médium viajou para Congonhas do Campo, para se colocar em defesa de Arigó, assim como também foi importantíssima na defesa do médium, a participação de Herculano Pires, através de debates da televisão. Essa era a segunda vez que o conhecido médium enfrentava a justiça. Pelo mesmo delito já havia sido condenado e indultado pelo presidente Juscelino Kubitschek em 1956. Desde a audiência de instrução e julgamento, em 22 de outubro de 1964, estava sendo aguardada a sessão pública durante a qual o magistrado de Congonhas, presente as partes, faria o julgamento.

Esperava-se o dia da audiência, quando o advogado de José Pedro de Freitas (Zé Arigó), professor Jair Leonardo Lopes, foi surpreendido pela informação de que seu cliente havia sido condenado, sem que nem o acusado e seus familiares fossem informados. Sem perda de tempo, Zé Arigó com seu advogado se apresentaram ao Juiz no fórum. Após a leitura da sentença, o réu se levantou e agradeceu ao Juiz e ao Promotor Público. Parentes e amigos do réu choravam no tribunal, quando uma tia dele entrou no tribunal e bradou: “Conforme-se meu filho, porque até Jesus também foi condenado sem julgamento”. Ele recebeu resignado a notícia desfavorável, afirmando-se convencido de que cumpria na Terra, sua missão: “Agora vou ter mais tempo para ler o Evangelho”, disse ele a caminho da prisão. A sentença era de dezesseis meses de prisão. Ele que era conhecido até no exterior por suas curas mediúnicas fora condenado a cumprir a pena no xadrez de Conselheiro Lafaiete, Minas Gerais. Como a delegacia de Congonhas não dispunha de veículo para conduzir o preso, ele foi dirigindo seu próprio carro acompanhado por dois soldados, sendo seguido por numerosos automóveis, expressando a fé de seus adeptos nos misteriosos poderes do médium. Depois de cumprir a pena, ele retornou á Congonhas onde continuou atendendo as pessoas. Com o seu desencarne em 197l, terminou seu trabalho que durou 10 anos. Graças a ele, o movimento espírita brasileiro cresceu muito.

Nessa mesma época, em Uberaba-MG., o dr. Waldo Vieira e outros médicos, já faziam experiências ectoplásmicas em seu consultório, com a presença do Chico Xavier como expectador. A médium usada nos trabalhos era a Sra. Otílio Diogo. Materializava-se nessas sessões, uma freira de nome Irmã Josefa, com todo o seu traje característico. Um repórter da revista “O Cruzeiro” tendo obtido algumas fotografias do fenômeno, publicou uma reportagem que teve muita repercussão e assustou o clero católico. Dias depois, a mando dos “Diários Associados”, chegavam a Uberaba, sete repórteres e fotógrafos da revista “O Cruzeiro” para “assistir os trabalhos mediúnicos”. A intenção era visível... desmoralizar e ridicularizar as materializações. Foi então exigido pelos repórteres, que eles examinassem e fiscalizassem tudo, tendo os médiuns e médicos espíritas, para evitar suspeitas, permitido todas as exigências. Um dos repórteres, de nome Nilo de Oliveira, que trabalhava na área policial, ficou do lado de fora do consultório durante a sessão, vigiando portas e janelas lacradas por dentro. A médium que se sujeitava a todas as exigências, teve que trocar seu vestido por outro totalmente negro, para não haver dúvidas, porque o Espírito da freira se materializava trajando seu vestuário branco. Foi feito ainda, uma jaula de ferro que foi instalada no centro do consultório, e fixada no assoalho uma cadeira, onde a Sra. Otília Diogo foi convidada a sentar tendo os repórteres lhes amarrado os pés com correias e cadeados. Nos pulsos da médium, colocaram uma algema, a fim de evitar qualquer tentativa de fraude. Por tudo isso, a atmosfera espiritual e ambiental era péssima, e a médium devia sentir-se bastante constrangida.

Poucos minutos depois do início da sessão, ela conseguiu entrar em transe mediúnico. Aparecerem luzes, o ectoplasma tomou forma e surgiu a freira, com seu hábito branco, totalmente materializada e de pé. As máquinas fotográficas foram registrando tudo o que se passava. Terminada a sessão, as lâmpadas foram acesas e os repórteres, boquiabertos, entreolhavam-se. Tudo no consultório voltara como antes.

Semanas depois, apareceu nas bancas de jornais, a fotografia da freira na capa da revista “O Cruzeiro”, e uma grande reportagem intitulada: “A Farsa da Materialização”. Dizia a matéria, um amontoado de falsidades e mentiras.
Em seguida, a revista que era semanal, passou a fazer uma campanha difamatória que durou três meses, ocupando setenta páginas ilustradas com oitenta e sete fotos. Quatro milhões, seiscentos e setenta e cinco mil exemplares da revista, foram espalhados por todo o País; isto em 1964, o que foi um recorde em edição de revista. Essa campanha difamatória foi um terremoto que abalou os alicerces do movimento espírita brasileiro. Teve repercussão na América do Sul e até na Europa. E qual foi á reação do movimento espírita? - Nenhuma! Nós espíritas, ficamos pasmos com as reportagens, igual aos apóstolos quando assistiram seu Mestre ser preso. O impacto foi terrível. Chegou-se até a acreditar que as instituições espíritas e o Espiritismo iriam desaparecer.

E a revista “O Cruzeiro” depois de arrasar a dignidade da médium, dos outros médiuns, dos médicos espíritas e até do Chico Xavier, não satisfeita passou ainda a chamá-los de escroques, bandidos, etc. Waldo Vieira e Chico Xavier, foram ameaçados de morte por fanáticos clericais e tiveram que se refugiar em Goiás, por algum tempo. Entretanto, antes de partirem, entregaram farto material fotográfico para Jorge Rizzini, e pediram a ele que botasse o “Evangelho” de lado e fizesse a defesa do Espiritismo, e ainda acrescentaram: “Vá à luta”. Rizzini sabia que os jornais, na sua maioria pertenciam aos “Diários Associados”, da qual fazia parte a revista “O Cruzeiro”, não lhe apoiariam; fez ele então das televisões de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, o veículo para a defesa. Assim, todas as semanas em que a revista mostrava a freira com reportagem difamante, ele ia ao Rio, onde a revista era impressa, sendo o principal campo de batalha, se apresentava na TV-Continental, canal 9, e desmentia a reportagem, apresentando depoimentos e fotos.

Nesse trabalho, muito foi ajudado pelo jornalista Carlos Pallut que o colocava no seu programa com duração de duas horas. Também foi valiosa a colaboração do confrade Luciano dos Anjos. A guerra jornalística não tinha tréguas. Até as Polícias Técnicas do Rio e de São Paulo foram envolvidas, a fim de que a verdade fosse restabelecida. A Polícia Técnica de São Paulo, aparelhada com microscópios, provou que as fotografias das materializações não haviam sido adulteradas, contradizendo portanto, o laudo do perito carioca Carlos Éboni, que dizia terem sido montadas, e publicado com enorme destaque, na revista “O Cruzeiro”. Três peritos examinaram as fotografias e chegaram a conclusão da autenticidade delas, tendo Rizzini apresentado o filme sobre a perícia na TV-Continental do Rio.

Durante todo esse rumoroso caso, por incrível que pareça, a Federação Espírita Brasileira, com sede no Rio, não se manifestou oficialmente, e nem publicou a pedido de Jorge Rizzini, no jornal “O Reformador”, editado pela F.E.B., o laudo pericial que desmentia a farsa da revista e que alertaria o movimento espírita de norte a sul, que a mentira era dos repórteres e da revista “O Cruzeiro”, e não das materializações. Ele deve ter tido as suas razões... Depois, como para se penitenciar, declarou: “Enquanto existir Jorge Rizzini, o movimento espírita não morrerá”.

A polêmica terminou, finalmente, com um debate na TV-Continental, tendo como mediador o jornalista Carlos Pallut. Do lado da verdade estavam Jorge Rizzini, Luciano dos Anjos e o médico paulista Alberto Calvo, perito; do outro lado, Carlos Éboni, os repórteres e um representante da diretoria da revista. O debate que durou três horas, foi gravado em fita e faz parte do livro “Materializações de Uberaba”. No término dos debates, a grande imprensa do Rio de Janeiro e São Paulo reconheceram que o movimento representado pelos espíritas foi o grande vencedor.

Depois de tudo isso, Jorge Rizzini comprou um horário na TV-Cultura, canal 2, de São Paulo e estreou o primeiro programa espírita na televisão brasileira no dia 2 de maio de 1966, com a presença de Chico Xavier e Waldo Vieira, vindos de Uberaba, especialmente para o lançamento do programa “Em busca da Verdade”, que foi depois lançado no Rio de Janeiro, pela TV-Continental. Esta foi á prova de fogo que teve de passar a Doutrina dos Espíritos no Brasil; terra do cruzeiro estelar; tendo o mesmo acontecido anteriormente na Espanha. Como de todos os acontecimentos, mesmo os mais lamentáveis, a Providência Divina sempre faz nascer algo de bom e construtivo, tudo isso serviu para chamar a atenção das pessoas para o Espiritismo e divulgar mais ainda a Doutrina dos Espíritos. Idêntico a este caso, foi também o processo movido pela família de Humberto de Campos, que desejava os direitos autorais das obras ditadas pelo seu espírito a Chico Xavier. Esse processo também comoveu muito o povo e foi muito comentado na sociedade e nos meios jurídicos, tendo o juiz não reconhecido a legitimidade da ação, dando direito à Federação e a Chico Xavier.

De todos esses acontecimentos, fica-nos um ensinamento: Tentando destruir os homens (Jesus e seus apóstolos), acreditava Roma que acabaria com as idéias. Tentando desmoralizar a Doutrina Espírita, a revista “O Cruzeiro”, os “Diários Associados”, o Sr. Assis Chateubriand e quem mais o induziu, acreditavam varrer desta terra abençoada, os ensinamentos do Consolador Prometido por Jesus. Entretanto, o que aconteceu foi que a verdade triunfou; Roma como império, se desmoronou; o Cristianismo continuou a se expandir; a revista “O Cruzeiro” depois de algum tempo se acabou, enquanto o Espiritismo vivificou e segue em frente, esclarecendo e confortando as pessoas, porque, como o Cristianismo, ele também é obra de Deus.

Façamos de Jorge Rizzini um exemplo a seguir; não tenhamos medo de defender e divulgar a nossa fé, a religião que abraçamos, nem receios de nos identificar como espíritas, porque será grande a nossa alegria e seremos felizes estando entre os servidores e irmãos da causa do Cristo.
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O programa “Pinga Fogo”, da TV-Tupy de São Paulo, não era espírita. Chico Xavier foi convidado e participou de um debate nesse programa em 28/07/1971; cinco anos depois da estréia do programa espírita “Em Busca da Verdade”.

Jc.
S.Luis, 12/11/1998

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