domingo, 23 de janeiro de 2011

A GLOBALIZAÇÃO E A FAMÍLIA

A GLOBALIZAÇÃO E A FAMÍLIA

Para Anthony Giddens, diretor da Escola de Economia e Ciências Políticas, de Londres, autor de dezenas de livros sobre esses assuntos, focalizado na revista “Isto É” de nº. 1659, diz ele “que a globalização é, antes de tudo, um fenômeno de comunicação. Embora sua feição mais visível seja a das relações econômicas e financeiras, é comprovado que esse aspecto da globalização mais divide do que une, uma vez que o jogo bruto do mercado, se nutre da desigualdade que fomenta, com regras que esmagam as economias emergentes, e aumentam a pobreza na face do planeta”.

Os mais acesos debates têm servido apenas como combustível para polêmicas de caráter político, muitas das vezes manipuladas por indivíduos interessados em defender posições aparentemente ideológicas, ou preservar e ainda conquistar fatias do poder. Por isso, uns assumem o papel de defensores, outros de adversários da globalização, como se esta, fosse produto criado por este ou aquele segmento político ou ideológico. Ao contrário, a globalização tem seus fundamentos mais consistentes na dinâmica com que circula a informação, que estabelece ou intensifica ligações entre os povos, aproximando pessoas até pouco tempo separadas pelas barreiras territoriais, de idioma, de raça e pela ação religiosa.

O ser humano é o mesmo nos quatro cantos do mundo. Sua busca de integração vem dos tempos ancestrais, quando procurava aventurar-se além dos limites do seu povoado, de sua tribo, seguindo a trilha de seu destino rumo ao desconhecido. Logo que lhe foi possível, aventurou-se nos caminhos do mar, afastando cada vez mais os limites de seus domínios. É certo que sempre o dominou a idéia de conquista, o que transformou sua história numa aventura econômica, mais do que ideológica. Entretanto, nem sempre os povos conquistados foram derrotados em seu espírito. Conquistadores e conquistados, em todos os tempos, terminaram por escrever histórias comuns de crescimento e influência mútua.

Austregésilo de Athayde, ilustre pernambucano que presidiu por mais de 30 anos a Academia Brasileira de Letras, disse: “A minha maior preocupação enquanto participei dos trabalhos de elaboração da “Declaração Universal dos Direitos Humanos”, foi à criação de um vínculo moral e espiritual entre os diversos povos do mundo; isto é, estabelecer a universalidade do entendimento do espírito”. E conclui: “Os laços econômicos e políticos não bastam e são precários. É preciso buscar, além e mais alto, numa concepção mais larga do destino humano. A razão da paz e da fraternidade está fora dos códigos dos homens”.

É sob essa forma que deve ser observado o fenômeno da globalização, porque não há sujeições nem dominações, mas se concretiza o sonho de uma sociedade igualitária e justa, cujos membros são identificados como portadores de iguais sentimentos e aspirações. Somente por isso, a globalização veio para ficar. O mundo moderno não comporta mais o isolamento das sociedades e os meios de comunicação estão cumprindo o seu papel. Cada vez mais a sobrevivência da humanidade está a depender do entendimento que constitui a aspiração maior do mundo moderno. Quem não se adaptar a essa nova realidade estará desperdiçando precioso tempo. Por tudo isso são cada vez mais universais os dramas localizados aqui e ali, chegando até nós os gritos de dor e revolta de povos que se trucidam em guerras fratricidas, fomentadas por interesses mesquinhos; sejam elas de ordem econômicas, políticas ou religiosas. Da mesma forma perdemos o sono ante a tragédia da fome, da miséria e do sofrimento que se abate sobre os nossos vizinhos de quarteirão, nas favelas, nas encostas dos morros, onde a dignidade do ser humano é espezinhada.

Depois de milênios, a família humana começa a estruturar-se e a fomentar novos interesses. Mais cedo do que se imagina, o interesse coletivo começará a prevalecer nas relações entre os seres e as nações. Este não é o futuro sonhado, é o futuro possível, o que equivale dizer que não haverá futuro sem o entendimento entre todas as sociedades humanas. Novos parâmetros medirão as sociedades, que não serão mais divididas entre ricos e miseráveis.

Há batalhas importantes a superar. Os males da sociedade moderna são partilhados por pobres e ricos. Por enquanto ainda existe uma geografia da fome e da miséria material localizadas. Mas há outros padecimentos que se universalizam, levando a dor e a incerteza para o centro das sociedades mais evoluídas do planeta. O esfacelamento do núcleo familiar, com o recrudescimento do egoísmo, a evolução lamentável da violência sob variadas formas, o terrorismo, o surgimento sem controle do uso de drogas, compõem um quadro de graves preocupações. Emmanuel comenta: “Esse quadro material que existe na Terra, não foi formado pela vontade de Deus; ele é o reflexo da mente humana, desvairada pela ambição e pelo egoísmo”. Mas, a vontade de Deus prevalecerá, e o primeiro passo para a construção de um novo tempo, está na universalização do espírito, sob um novo aspecto onde deverá ser vivenciado o fenômeno da globalização. Até que prevaleça essa nova visão, muito sofrimento ainda existirá.

A experiência dolorosa descerrará as portas da compreensão necessária à definitiva constituição da família verdadeiramente cristã. As Casas Espíritas, núcleos humildes de irradiação do ideal cristão, têm uma grande colaboração a prestar. Praticando um conceito de religião liberto das formas exteriores, baseiam suas ações no verdadeiro amor ao próximo, construído sob a tolerância e a caridade. Com tais inspirações, mais do que simplesmente procurar mitigar a fome e as dificuldades materiais, dos que lhes batem à porta. Esses núcleos cristãos disseminam os ideais de um novo mundo, em que a colaboração que constrói a fraternidade substituirá o egoísmo que esmaga o espírito. Será lento esse trabalho? Sem dúvida. Porém seus frutos são compensadores e deles resultará um novo conceito de sociedade, globalizada; base de uma verdadeira família humana cristã...

Bibliografia:
Revista Espírita de Campos

Jc.
02/05/2002

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