sábado, 26 de fevereiro de 2011

A LEI DA DESTRUIÇÃO

A LEI DA DESTRUIÇÃO


Desde os tempos remotos, há bilhões de anos, quando os primeiros habitantes do orbe ainda eram animálculos unicelulares, abrigados no seio das águas dos mares, a saga evolutiva dos seres vivos sempre foi marcada pela constante luta pela sobrevivência, em que duelaram dois instintos: o da conservação e o da destruição.

Para sustentar a existência, as criaturas precisam de energia, que encontram-se nos alimentos. Nessa faina, impulsionados pelo instinto, entredevoram-se mutuamente. É quando se opera o ciclo de transferência de energias e de nutrientes, que segue numa espiral infinita. Em uma das pontas dessa cadeia estamos nós, seres humanos, que também nos alimentamos dos vegetais, dos minerais e das carnes e vísceras dos animais, “nossos irmãos inferiores”.

Não bastasse isso, os hóspedes da casa planetária têm, ainda, que enfrentar os flagelos naturais que ameaçam a existência e outros valores, causando grandes sofrimentos. Essa constatação, impactante a princípio, já nos dá uma idéia da faixa evolutiva em que ainda nos situamos, apesar da idade estimada do planeta em 4.6 bilhões de anos. Todavia, os mentores celestes, por meio do Espírito André Luiz, informam que o ser humano lida com a razão há apenas 40 mil anos, aproximadamente. Assim sendo, cálculos elementares nos levam a concluir que estamos ainda nas primeiras lições da cartilha da vida. Não é sem razão que o comportamento social da criatura humana, blindado com o verniz da civilização, ainda apresenta os atavismos de competição e beligerância.

(... com o mesmo furioso ímpeto com que o homem de Neandertal
aniquilava o inimigo, a golpes de sílex, o homem da atualidade,
classificada de gloriosa era dos grandes conhecimentos, extermina
o próprio irmão a tiros de fuzil.)

Por isso, a convivência em sociedade, muitas vezes marcada pela opressão e pela violência de todos os tipos contra o semelhante, é interpretada por algumas pessoas, com fundamento no célebre aforismo, cunhado pelo filósofo inglês Thomas Hobbes (1588-1679), de que “o homem é o lobo do próprio homem”.

Que razão teria a Sabedoria Divina para estabelecer entre os seres vivos, como regra da Natureza, a luta pela sobrevivência, a destruição recíproca e a destruição pelos flagelos naturais? Estariam esses princípios em consonância com a bondade e a justiça do Criador? – O estudo das Leis Morais, reveladas em “O Livro dos Espíritos”, abre uma ampla visão filosófica e científica, baseada na unidade da criação, na imortalidade, na reencarnação e no progresso dos seres, que permite um entendimento melhor dos propósitos superiores da Inteligência Suprema, em que, “as aquisições de cada pessoa resultam da lei do esforço próprio no caminho ilimitado da Criação”.

(... Só o conhecimento do princípio espiritual, considerado na verdadeira
essência, e o da grande lei de unidade, que constitui a harmonia da
criação, pode dar ao ser humano a chave desse mistério e mostrar-lhe a
sabedoria providencial e a harmonia exatamente onde apenas vê uma
anomalia e uma contradição.)

O ser humano começa a perceber que também integra os ecossistemas, tanto que já propugna pela substituição do modelo de desenvolvimento atual, ecologicamente predatório, socialmente perverso e politicamente injusto, por outro sustentável, que tem por divisa progredir sem destruir. Mas será que é possível progredir sem destruir? Em caso afirmativo, onde estariam os limites éticos da destruição? Destruição no sentido comum, significa extinção, aniquilamento. Sob o ponto de vista espírita, contudo, a Lei de Destruição é uma transformação, uma metamorfose, tendo por fim a renovação e a melhoria dos seres vivos. Essa destruição tem dupla finalidade: manutenção do equilíbrio na reprodução, que poderia tornar-se excessiva, e utilização dos despojos do envoltório corporal que sofre a destruição.

(... É esse equilíbrio dinâmico – baseado em sofisticadas engrenagens,
que regem a existência e a morte – que assegura a perenidade dos
ecossistemas e dos seres vivos que neles existem.)

A parte essencial do ser pensante (elemento inteligente ou espírito) é distinta do corpo físico e não se destrói com a desintegração deste. Logo a verdadeira vida, seja do animal, seja do ser humano, não está no organismo físico. Está no princípio inteligente, que preexiste e sobrevive ao corpo material, que se consome nesse trabalho, ao contrário do Espírito, que sai cada vez mais forte, mais lúcido e mais evoluído. Enfim, a existência e a morte, dentro do planejamento divino, se apresentam como faces da mesma moeda:

(... a lei de destruição é, por assim dizer, o complemento do processo
evolutivo, visto ser preciso morrer para renascer, e passar por milhares
de metamorfoses, animando formas corporais gradativamente mais
aperfeiçoadas, e é desse modo que, paralelamente, os seres vivos vão
passando por estados de consciência cada vez mais lúcidos, até atingir,
na espécie humana, o reinado da razão e dos sentimentos.)

O instinto de destruição, coexiste com o de conservação, a título de contrapeso, de equilíbrio, para que a primeira não se dê antes do tempo, visto que toda destruição antecipada (suicídio), constitui obstáculo ao desenvolvimento do espírito, motivo pelo qual Deus fez com que cada ser experimentasse a necessidade de viver e de se reproduzir. Há dois tipos de destruição: a “destruição natural” e a “destruição abusiva”. A destruição natural opera-se com o objetivo de manter o equilíbrio dos ecossistemas, como, por exemplo, na morte natural dos corpos por velhice, nos incêndios naturais das matas que dizimam pragas, na erupção de vulcões, nos terremotos, nas cheias dos rios que regulam os ciclos de renovação da vida.

Os flagelos naturais, que ceifam a existência de milhares de pessoas, não se
constituem de meros acidentes da Natureza, uma vez que o planeta não está sob a direção de forças cegas. Ninguém sofre sem uma razão justa. Tais fenômenos representam fator de elevação espiritual, com vistas à felicidade das pessoas. Além de favorecerem o desenvolvimento da inteligência ante os desafios, auxiliam o desabrochar dos sentimentos, tais como a paciência, a resignação, a solidariedade e o amor ao próximo.

(... as comoções do globo são instrumentos de provações coletivas
Penosas. Nesses cataclismos, a multidão resgata os seus débitos de
outras existências, e cada elemento integrante da mesma, quita-se do
pretérito na pauta dos débitos individuais.)

Já a destruição abusiva, que exprime faces diferentes da violência, é aquela provocada de forma predatória, com propósitos egoísticos, a pretextos de se livrar de resgates com sofrimentos e para satisfazer paixões e necessidades supérfluas, a exemplo do consumismo desenfreado, das caçadas de animais por distração e das touradas. Além disso, o ser humano também ofende gravemente a Lei Divina quando assassina, quando pratica o suicídio e o aborto ilícito, quando provoca guerras, etc.

Os animais, por terem no instinto uma guia seguro, somente destroem para as suas próprias necessidades, mas o ser humano, dotado do livre-arbítrio, nem sempre utiliza sua liberdade com sabedoria, sujeitando-se ao princípio de causa e efeito. Há nos seres humanos períodos de transição no qual ele se distingue com dificuldade dos animais; nas primeiras idades, o instinto animal domina, e a luta tem, ainda, por motivo a satisfação das necessidades materiais; mais tarde, o instinto animal e o sentimento moral se contrabalançam; o ser humano então luta, não mais para se nutrir, mas para satisfazer suas ambições, seu orgulho, a necessidade de dominar; para isso lhe é, ainda preciso destruir. À medida que o senso moral predomina, a sensibilidade se desenvolve, a necessidade da destruição diminui; acaba por se apagar e se tornar odiosa; então o ser humano tem horror aos sofrimentos e a destruição.

Se a destruição é necessária, Deus não poderia empregar, para o aprimoramento da Humanidade, outros meios senão os flagelos destruidores? – Sim, e o emprega todos os dias, visto que deu a cada um os meios de progredir pelo conhecimento do bem e do mal. O ser humano é que não aproveita e por isso é necessário fazê-lo sentir as conseqüências do seu orgulho e de seus atos. As Leis Divinas são perfeitas! A necessidade de destruição tende a desaparecer, à medida que o ser humano (espírito encarnado), pela evolução intelectual e moral, sobrepuja os instintos da matéria. À medida que adquire senso moral, vai desenvolvendo a sensibilidade e tomando aversão à violência. É quando passa a ver no seu semelhante não mais o “lobo”, mas o irmão necessitado de amparo e solidariedade. Entretanto, ainda que se despoje dos instintos belicosos, o ser humano, até que desenvolva plenamente o Espírito, sempre estará sujeito aos desafios da luta humana, cuja superação depende do trabalho, do esforço, da experiência, do
conhecimento e da aquisição de valores morais.

(... Mas, nessa ocasião, a luta, de sangrenta e brutal que era, se torna
puramente intelectual e moral. O ser humano luta contra as dificuldades.
não mais contra os seus semelhantes.)

Há, da parte das instituições, grande preocupação com o desequilíbrio ambiental, com o crescimento demográfico e as desigualdades sociais, com a miséria, a criminalidade, a corrupção e a impunidade. As medidas tópicas, de ordem econômica, tecnológica, muitas delas com a utilização da força bruta, não alcançaram ainda as verdadeiras causas do problema, que estão na ausência da educação moral do Espírito; educação essa que deve iniciar-se desde a infância como forma preventiva.

É possível colher os benefícios de uma existência sóbria, sem necessidade de praticar a violência ou de destruir o seu próximo. “A existência é menos uma luta competitiva pela sobrevivência, e mais um triunfo da cooperação e da criatividade”. Que o ser humano não se iluda: sem primeiro dominar a si mesmo, ele jamais dominará a Natureza...



Bibliografia:
Christiano Torchi
Emmanuel – André Luiz
Allan Kardec – André Trigueiro
Rodolfo Calligaris - Fritjof Capra
“Livro dos Espíritos”
“A Gênese”
Revista “O Reformador” nº. 2183


Jc.
S.Luis, 25/2/2011

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