sábado, 23 de abril de 2011

FREDERICO FIGNER

FREDERICO FIGNER

Frederico Figner nasceu no dia 2 de dezembro de 1866, em Teynska na Tchecoslováquia, então Boêmia que fazia parte do Império Austro-húngaro. De origem judaica, viveu no lar paterno os preconceitos de rejeição de sua raça contra o carpinteiro de Nazaré. Na verdade, Figner, como outros judeus não tinham religião alguma, e deixou a casa dos pais aos 13 anos de idade, em busca de seus ideais. Era um missionário que como outros que vinham cumprir sua missão no Brasil, durante longa existência como brasileiro, entre os melhores. Francisco Valdomiro Lorenz, nascido em Zbislav e chegado ao Brasil dois anos depois de Figner. Ambos vinham da pátria dos grandes mártires do Cristianismo como João Huss e Jerônimo de Praga, divulgar aqui os ideais superiores. Figner e Lorenz trabalharam na Federação Espírita Brasileira, que era recém-criada quando eles chegaram ao Brasil. Figner levava como modelo de conduta a tenacidade dos pais que eram um exemplo a imitar para vencer na vida. Uma tempestade violenta foi o único incidente da travessia do oceano, mas foi-lhe rude a luta para adquirir estabilidade econômica de sorte a manter-se e ajudar os pais e irmãos. Estados Unidos, México, América Central e, finalmente, América do Sul, foram seus campos de batalha econômica.

Em 1892 estabeleceu-se no Rio de Janeiro onde, entre outras coisas, fundou a famosa Casa Edison e ajudou a divulgar a máquina de escrever em todo o Brasil. Prosperou e conheceu uma jovem de virtudes e alma de artista, D. Esther de Freitas Reys, filha de família ilustre. Em 1897, Frederico e Esther fundaram o lar pelo matrimônio. Recebia ele o prêmio de suas grandes lutas de trinta anos, mas não sonhava com o repouso, que não era ideal de seu caráter vibrante. Desse feliz enlace nasceram seis filhos: Rachel, Aluísio, Gabriel, Leonilda, Helena e Leia, muito devotados ao seu pai. Foi no Brasil, e quando já negociante próspero, com loja comercial e industrial no Rio e uma filial em São Paulo, que Figner veio a conhecer o Espiritismo.

Nos primeiros anos do século vinte, Figner iniciou relações de amizade com Pedro Sayão, filho do doutrinador Antonio Luis Sayão, pai da cantora Bidu Sayão. Pedro Sayão, durante cerca de dois anos, lhe freqüentou a loja e palestrava sobre o Cristianismo e o Espiritismo, sem que Figner se impressionasse pelo assunto, porém, numa de suas visitas ao seu estabelecimento de São Paulo, Figner ouviu a dolorosa história de um seu empregado, cuja esposa se achava gravemente enferma e necessitada de melindrosa operação cirúrgica. Ao regressar ao Rio, ele pediu ao seu amigo Pedro Sayão que lhe obtivesse uma receita espiritual para a cura da enferma de São Paulo. A receita foi dada e a cura se processou sem a intervenção de médico. Foi esse fato que inclinou Figner a favor do Espiritismo. Impressionado com a cura da doente, Figner foi procurado, em outra ocasião, na sua loja por um pobre, pai de família desempregado, em penosa situação econômica. Ouviu-lhe o relato de sua situação, deu-lhe um pouco de dinheiro e disse-lhe que voltasse oito dias depois. Pela primeira vez na existência de Figner, ele fez um pedido ao Carpinteiro de Nazaré: “Se é como dizem os cristãos, que Tu tens poder, ajuda a esse pobre pai de família; arranja-Lhe trabalho e meios de sobrevivência!”. Oito dias mais tarde, voltava o homem com um sorriso no rosto e lhe falou feliz: “Já estou trabalhando e brevemente virei restituir seu dinheiro, Sr. Figner. Eu fui procurado por uma pessoa que me convidou para um emprego inteiramente inesperado”. Figner se impressionou e repetiu semelhantes pedidos, com resultados positivos. Em vez de pedir a Jesus, passou a pedir para Maria e igualmente os resultados não se faziam esperar. Encheu-se de fé que transporta montanhas e estudou o Cristianismo e a Doutrina dos Espíritos, e com os conhecimentos adquiridos, passou a consagrar sua existência ao serviço dos outros.

Não se sabe ao certo quando se deu essa conversão, mas em 1903 já se encontrava em atividades espíritas na Federação Espírita Brasileira. Por ocasião da “gripe espanhola”, em 1918, já estava com 14 doentes em seu próprio lar e ele mesmo adoentado e febril, passava os dias na Federação, atendendo a doentes e necessitados que iam lá em grande quantidade, buscar recursos para situações aflitivas. Sua existência durante longos anos consistia em ir pela manhã e a tarde à Federação tomar ditados de receitas de diversos espíritos, chegando às vezes a receber de 150 a 200 receitas por dia e a dar passes em numerosos doentes. Levantava-se ele, às cinco horas da manhã e, antes de ir para a loja, ia à Federação, de onde só saia quando terminava esse serviço de anotar as receitas. Às quatro horas da tarde, lá estava ele de volta para orar e dar passes em doentes. E curava mesmo os enfermos, pois seus “fregueses”, como ele mesmo os chamava na intimidade, cresciam sempre.

Como propagandista da Doutrina, manteve sempre uma seção no jornal “Correio da Manhã”, órgão em circulação no Rio de Janeiro. Em 1921 polemizou com o Padre Florêncio Dubois pela “Folha do Norte”, do Pará. Promoveu a publicação de muitos livros, custeando as edições. Com uma disciplina digna de louvores dividia seu tempo entre a atividade profissional e os afazeres espíritas, chegando a presidir vários grupos na sede da FEB e em seu lar. Viajando ao exterior buscou contato com o médium Willy Hope e encontrou-se na Inglaterra com Sir Arthur Conan Doyle. Em 1920 perdeu a filha primogênita Rachel, e sua esposa ficou inconsolável. Ouvindo falar da médium de materialização D. Ana Pedro, em Belém do Pará, decidiu-se a partir para o Norte e no dia 1º de abril de 1921, embarcou com toda a família. O que aconteceu naquelas sessões, acha-se relatado no livro do Dr. Nogueira de Faria, intitulado “O Trabalho dos Mortos”, pela senhora D. Esther Figner, que regressando ao Rio e assistida pela sua filha Leontina, escreveu relato minucioso do que ocorrera.

O serviço de Figner nas obras de assistência e no trabalho profissional o afastava muito do lar, mas isso não prejudicava o cultivo de um sincero e extremado afeto entre pai e filhos. Amavam-se com ardor e se respeitavam reciprocamente nas idéias e crenças particulares de cada um. Trabalhou e serviu abnegadamente até que a enfermidade o prendeu ao leito, poucos dias antes da partida para a espiritualidade. Completou 80 anos em 2 de dezembro de 1946, e em 19 de janeiro de 1947, às 20 horas, partiu para o mundo espiritual, deixando aberto caminhos de luz, sobre a
Terra que pisara por tanto tempo.

Bibliografia:
Marinei Ferreira Rezende
Jornal “O Imortal” – 08/2007

Jc. - S.Luis, 1ll/4/2011

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