segunda-feira, 30 de maio de 2011

ALBERT SCHWEITZER

ALBERT SCHWEITZER

“Os anos enrugam a pele, mas renunciar ao entusiasmo faz enrugar a alma”.

Quem disse isso, sabia bem o que estava dizendo. Dentre as grandes personalidades do século XX haverá sempre lugar de destaque para ele: Albert Schweitzer (1875-1965), alguém que nunca perdeu o entusiasmo. Cheio de vontade, foi raro exemplar do homem de múltiplas aptidões – um artista e pensador que conseguia ser também um homem de ação.

Nascido na Alsácia, filho de pastor protestante, doutorou-se em Filosofia e Teologia, destacando-se desde cedo como escritor. Publicou brilhantes estudos sobre a vida e o pensamento de Jesus. Exímio organista era fã ardoroso de Bach (1685-1750), que ajudou a popularizar com notáveis estudos sobre suas técnicas, além de dedicar-se à produção de órgãos adequados à execução de suas composições.

Aos trinta anos de idade poderia considerar-se um homem feliz e realizado, destacando-se como musicista, teólogo e escritor, atividades que lhe eram gratas. Estavam abertos para ele os caminhos da fama e da fortuna. Sentia-se esmagado sob o peso de tamanha felicidade e perguntava a si próprio se tinha direito de receber este dom como coisa natural. O direito à felicidade, eis aqui o problema que em sua existência interior converteu-se em assunto tão importante quanto fora em sua infância á compaixão por todos os sofrimentos que reinavam no mundo. Este sentimento e esta questão determinaram, por suas recíprocas reações, seu conceito de vida e marcaram seu destino.

“Dava-se conta de que não tinha o direito de aceitar como dons gratuitos a felicidade e a juventude, a saúde e a sua faculdade de trabalho. A profunda consciência de seus privilégios fez-lhe compreender cada vez mais claramente estas palavras de Jesus: “Não temos direito de guardar nossa vida para nós mesmos”. Aquele que está coberto de benefícios, na existência, deve repartir, por seu turno, na mesma medida. Aquele que não conhece o sofrimento deve contribuir para minorar o do próximo.Temos todos de assumir uma parcela da dor que existe sobre o mundo”.

Schweitzer poderia divulgar essas idéias para grandes platéias na Europa, com os dons da oratória e das letras, mas isso não lhe bastava. Era preciso sair a campo, ir ao encontro dos sofredores! Era imperioso transformar em prática, em ativismo do Bem, as teorias religiosas de edificação do Reino Divino. A medicina lhe pareceu o campo mais adequado. Assim, sem vacilar, pôs em prática um projeto que acalantava desde a adolescência: formar-se médico. Aos trinta anos de idade retornou aos bancos universitários, matriculando-se na Escola de Medicina de Estrasburgo.

Toda sua família e amigos famosos, como Romain Rolland (1866-1944), escritor
francês, e Charles Marie Widor (1844-1937) compositor e organista francês, seu professor de música, condenaram a idéia. Widor exprimiu, num exemplo, a reprovação de todos, dizendo: “Você procede como o general que vai à linha de fogo com um rifle”. – Mas Schweitzer sabia muito bem o que queria. Inabalável, dedicou-se aos estudos, realizando prodígios de dedicação para conciliá-los com suas atividades. Formou-se em 1913, e tão logo teve condições partiu para a África, já casado com Helène Bresslau, que lhe compartilhava os ideais.

Conseguira acumular recursos em viagens como conferencista e concertista. Seriam eles utilizados na fundação de um hospital para hansenianos, em Lambarene, no Gabão. Ali realizou seu mais caro ideal – servir à Humanidade. E o fez com tanta dedicação e amor, que o mundo festejou , em 1952, o Prêmio Nobel da Paz que lhe foi conferido em reconhecimento ao seu trabalho.

Ao longo da codificação espírita Allan Kardec situa o egoísmo como elemento gerador de todos os males humanos. Ao proclamar a máxima “Fora da Caridade não há salvação”, oferece-nos o roteiro para que o vençamos. Na medida em que nos preocupamos em fazer algo em favor do nosso semelhante, começamos a derrotar o egoísmo. A duras penas vamos aprendendo essa lição. Espíritos como Albert Schweitzer, não necessitam de orientação nesse sentido. Perfeitamente integrados nos objetivos da existência, já nascem com a vocação de trabalhar em favor do próximo. Desconhecendo o egoísmo, mal podem esperar pelo privilégio de servir.

Quando ele desencarnou em 1965, assim foi noticiado pelas agências internacionais: “Após uma lenta agonia, faleceu em Lambarene, no Gabão, o médico, missionário e musicista, Albert Schweitzer, com a idade de 90 anos. Durante mais de meio século, ele serviu ao povo africano como rara e exemplar dedicação. O “grande doutor” expirou ouvindo os acordes da música de Bach, que ele tanto amava e que executava com perfeição”.

O exímio músico, o orador notável, o escritor brilhante, o teólogo erudito, será lembrado para sempre como alguém que alcançou a suprema realização, preconizada por Jesus – a renúncia de si mesmo em favor dos seus irmãos sofredores. Seu corpo enrugado por décadas sob o causticante sol africano; alma sem mácula, sustentada pela luz do Bem. . .

Bibliografia:
Richard Simonetti
Revista “O Reformador” – 09/2007
Pequenas modificações

Jc.
S.Luis, 27/5/2011

Nenhum comentário: