sábado, 21 de maio de 2011

VIANNA DE CARVALHO

VIANNA DE CARVALHO

Com entusiasmo e perseverança, desde alguns anos temos procurado rastrear os passos luminosos de Manoel Vianna de Carvalho, alma excelsa, exemplo de inclinação missionária, baluarte de um trabalho incomparável na difusão dos postulados espíritas por todo este País. Entretanto, bem poucos conhecem a dimensão exata de seu labor, disseminando os princípios de uma verdade consoladora: a doutrina sistematizada por Allan Kardec.

Assim sendo, passemos ao seu perfil biográfico. Manoel Vianna de Carvalho nasceu na cidade de Icó, no Ceará, no dia 10 de dezembro de 1874. Era filho de Tomás Antonio de Carvalho, professor de Música e Língua Portuguesa da Escola Normal, e de Josefa Vianna, mulher de muitas virtudes. Em Fortaleza, estudou no Liceu do Ceará. Em 1891, matriculou-se na Escola Militar do Ceará, onde se destacaria pelo brilho de sua inteligência. Nesse mesmo ano, juntamente com outros cadetes, conheceu a “Doutrina dos Espíritos”, na própria escola, organizado por um grupo de estudos doutrinários. Em 1894, ainda na capital cearense, avultou como poeta, participando da fundação do Centro Literário, agremiação dissidente da célebre Padaria Espiritual. No ano de 1895, transferiu-se para o Rio de Janeiro, matriculando-se no Curso Superior da antiga Escola Militar da Praia Vermelha e passou a freqüentar a União Espírita de Propaganda do Brasil. Ali, Vianna de Carvalho destacou-se como um dos mais ardorosos trabalhadores do grupo, passando a ocupar a tribuna, quase todas as noites. Sua aparência juvenil não fazia diferença, porque seu verbo inspirado e eloqüente embevecia os ouvintes, concorrendo para aumentar, diariamente, o número de pessoas para ouvi-lo.

Em 1896, foi transferido para a Escola Militar de Porto Alegre, e lá chegando procurou alguns confrades e, numa casa abandonada, desprovida de mesas e cadeiras, dentro de um terreno baldio, no bairro Parthenon, começou a divulgar a Doutrina Espírita. Em seguida, fundou um núcleo de estudos no andar térreo de uma casa comercial, à Rua dos Andradas e convocou diversas pessoas, entre as quais Mercedes Ferrari, que animada pelo cadete Vianna e com o apoio de outros companheiros, deu grande impulso no Movimento Espírita local. Em 1898, regressou ao Rio de Janeiro e retomou os trabalhos na União Espírita de Propaganda do Brasil, passando a ser requisitado para proferir conferências em todo o Distrito Federal, que na época ficava no Rio de Janeiro. Ainda no ano de 1898, de novo em Porto Alegre, publicou a sua primeira obra literária, “Facetas”, cuja segunda edição, lançada em 1910, foi prefaciada pela poetisa Carmen Dolores, pseudônimo da escritora Emília Bandeira de Melo, tendo o livro recebido os melhores elogios da crítica; e em 1923, publicou o livro, “Coloridos e Modulações”, coletânea de suas crônicas, escritas durante vários anos em periódicos espíritas e literários, sendo a obra igualmente muito bem recebida pela crítica.

Em 1905, foi transferido para o 8º Batalhão de Infantaria, em Cuiabá, e naquela cidade em 1906, fundou o Centro Espírita Cuiabano, dotando-o do necessário ao seu bom funcionamento, sendo seu primeiro presidente. Em 1907, retornou ao Rio de Janeiro a fim de se matricular no Curso de Engenharia da Escola Militar, no bairro de Realengo. Dessa vez realizou uma série de conferências na Federação Espírita Brasileira e no auditório da antiga Associação dos Empregados no Comércio, com platéias cada vez maiores. Foi também convidado para fazer conferências, nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo e em todo o Estado do Rio de Janeiro, sendo, em muitas dessas excursões, acompanhado por Ignácio Bittencourt, diretor do jornal “Aurora”, onde Vianna emprestou a sua colaboração, como também em tantos outros periódicos espíritas e laicos, por todo o País. Em 1910, concluiu o Curso de Engenharia Militar e mudou-se para Fortaleza em abril daquele ano.

A Doutrina Espírita no Ceará floresceu na última década do século XIX, mercê da persistência do grande pioneiro Luiz de França de Almeida e Sá, fundador do “Grupo Espírita Fé e Caridade”. Na virada do século, surgiram mais dois grupos na cidade de Maranguape, o “Verdade e Luz”, que editou um 1901 o jornal “Luz e Fé”, e o grupo “Caridade e Luz”, organizado em agosto de 1902, e que publicava o jornal “Doutrina de Jesus”, e mantinha a Escola Cristã, uma das primeiras escolas vinculadas a uma sociedade espírita no Brasil. Contudo, esses grupos espíritas, por serem mais reuniões familiares, não tiveram longa duração e não mais existiam quando da chegada de Vianna de Carvalho.

O grande desenvolvimento da Doutrina dos Espíritos no Ceará só ocorreu, efetivamente, a partir de 1910, com a chegada de Vianna de Carvalho. Sua permanência em Fortaleza, de maio de 1910 a novembro de 1911, foi pródiga em realizações. Logo ao chegar, procurou arregimentar forças para organizar o Movimento Espírita local. Publicou, repetidas vezes, nas páginas do jornal “Unitário”, anúncios como este: “Peço aos espíritas, do interior do Ceará, bem como aos socialistas, maçons, livres pensadores, adeptos em geral das idéias modernas, o obséquio de me enviarem os seus endereços, para fins de propaganda. Vianna de Carvalho – Endereço: Rua 24 de Maio nº. 26 – Fortaleza-Ceará”.

Ele promoveu o estudo sistemático de “O Livro dos Espíritos” e fazia conferências semanais nos salões das lojas maçônicas “Amor e Caridade”, “Igualdade” e “Liberdade”. Essas preleções, que passaram a ser publicadas, sinteticamente, nos jornais, “Unitário” e “A República”, tiveram grande repercussão e motivaram imediata reação de líderes católicos que, pelos jornais, “Cruzeiro do Norte” e “O Bandeirante’ combateram o Espiritismo e seu fiel pregador. A campanha insidiosa, em vez de prejudicar, aumentou grandemente o interesse pela Doutrina. Entretanto, o corolário desse missionário, filho de Iço, foi á fundação em junho de 1910, do Centro Espírita Cearense, que passou a funcionar na Rua Santa Isabel nº. 255, bem no coração da cidade.

O jornal “O Unitário”, na edição do dia 22 de junho, registrou este memorável acontecimento, publicando o seguinte: “Domingo, 19, á uma hora da tarde, realizou-se no palacete da Fênix Caixeiral, a sessão solene de fundação do Centro Espírita Cearense. Presidiu a sessão o ilustre magistrado Dr. Desembargador Olympio de Paiva, que teve a secretariá-lo os senhores Miguel Cunha e Francisco Prado. Em seguida foi dada a palavra ao Sr. Dr. Vianna de Carvalho que produziu brilhante e erudita peça oratória, discorrendo largamente sobre a Doutrina dos Espíritos. Sua Senhoria foi delirantemente aplaudido. Estiveram presentes à sessão, inúmeros cavalheiros de distinção e várias famílias que assinaram a ata de fundação da nova associação. Foi grande o número de pessoas que se inscreveram como sócios do Centro Espírita Cearense. Aos esforçados membros do Centro, enviamos os nossos votos para que tenham completo êxito em seu nobilíssimo desideratum”.

Vianna de Carvalho, na palestra de inauguração do Centro, lamentou que no Ceará, onde têm surgido os mais belos empreendimentos, ainda não se apercebesse da necessidade imperiosa de organizar um Centro Espírita, enquanto em outros estados, mesmo os mais longínquos, a Doutrina Espírita tem sulcado profundo e sua ação benéfica, pela divulgação espantosa de todos os ensinamentos capazes de remodelar os sentimentos incompatíveis com a verdadeira e genuína religião do Cristo. Disse mais, que era em nome da Federação Espírita Brasileira que assim falava e pediu ao Sr. Presidente que em nome daquela entidade, declarasse fundado nesta capital o Centro Espírita Cearense.

O Centro Espírita Cearense passou então a desenvolver notável serviço no campo da propaganda doutrinária (promoção de estudos, conferências, criação do jornal “O Lábaro”, etc.) e no campo assistencial. Por esse trabalho e a partir de Fortaleza, Vianna de Carvalho sofreria intensa perseguição de influentes membros da Igreja Católica, que passaram a pleitear sua transferência junto às autoridades militares. Assim, em novembro de 1911, depois de um ano e seis meses de grandes serviços prestados à Causa Espírita, foi transferido para a Capital Federal. Em outubro de 1923, regressou a Fortaleza como chefe interino do Estado Maior da 7ª Região Militar, com sede em Recife, no desempenho de importante comissão do Ministério da Guerra. Ele aproveitou a oportunidade para rever velhos amigos e fazer conferências no Centro Espírita Cearense, que então já possuía sede própria, e na Loja Maçônica “Liberdade”.

No dia 10 de abril de 1924, voltou para assumir as funções de fiscal do 23º Batalhão de Caçadores, sendo recebido pelos seus amigos e admiradores que o recepcionaram no desembarque. Em julho do mesmo ano, assumiu o comando interino do referido Batalhão, permanecendo em Fortaleza até 11 de setembro de 1924. Nesse período, proferiu muitas conferências e participou de atividades culturais. Decorridos treze anos de sua fecunda tarefa na organização do Movimento Espírita Cearense, não enfrentou as mesmas resistências da outra vez porquanto, além do respeito que lhe impunha o novo posto e função, vários intelectuais, figuras da sociedade fortalezense, havia se convertido ao Espiritismo. Entre estes, o tenente-coronel Francisco de Sá Roriz, que fora chefe de polícia no governo do general Setembrino de Carvalho, e fundador, em 1916 da Faculdade de Farmácia e Odontologia.

No Rio de Janeiro, Vianna de Carvalho juntamente com Ignácio Bittencourt, fundou a União Espírita Suburbana; com Arthur Machado, a Tenda Espírita de Caridade. Ele realizou inúmeras conferências públicas no Cine-Teatro Odeon e na Escola Nacional de Música. Vianna de Carvalho percorreu as principais cidades brasileiras do início do século XX. Em Recife, onde já era grande a sua fama, fundou, com Antonio José Ferreira Lima e Manoel Aarão, a Cruzada Espírita Pernambucana, em 1923. Pregou também no Cine-Teatro Polyteama e no Teatro Santa Isabel. Os jornais “A Província” e o “Diário de Pernambuco”, noticiaram que o público para ouvi-lo era incalculável, com pessoas de todas as classes sociais. Foi ele quem, em 1914, levantou a campanha para evangelização das crianças nos centros espíritas, sugerindo as aulas de Moral Cristã.

Em 1926, quando servia em Aracajú, adoeceu gravemente, vitimado por um tipo grave de beribéri. Era ele o comandante interino do 28º Batalhão de Caçadores, no posto de major. Diante da gravidade do seu estado de saúde, os médicos o encaminharam para o Hospital de São Sebastião, em Salvador. Foi conduzido de maca até o vapor “Íris”. Nas proximidades da praia de Amaralina, às 6,30 da manhã do dia 13 de outubro de 1926, desencarnou a bordo, aos 51 anos de existência, regressando ao mundo espiritual. Foi ele, um dos mais fiéis apóstolos da Terceira Revelação.


Bibliografia:
Luciano Klein Filho
Revista “O Reformador” – 10/2006

Jc.
S.Luis, 18/5/2011

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