quinta-feira, 21 de julho de 2011

A EXPECTATIVA DA EXISTÊNCIA LONGA

A EXPECTATIVA DA EXISTÊNCIA LONGA

A ciência vem aumentando em todo o mundo o desafio de fazer com que esses anos a mais sejam vividos com saúde e alegria, pelas pessoas.

Envelhecer já foi um milagre, um sonho e também uma sentença cruel. Nossos poetas românticos, por exemplo, almejavam a existência curta, cheia de muita tosse, olhos fundos, aureolado de acentuadas olheiras. E, quando a existência se estendia, sentiam-se traídos pelo destino, envergonhados diante da posteridade. Consta até que um deles, aos 22 anos de idade, preocupado com a hora final que tardava a chegar, declarava-se com 20 anos – a fim de ampliar a chance de ser colhido na juventude. Acabou não desapontando ninguém, nem a si próprio, pois morreu aos 23 anos. Não fosse o fim precoce dos poetas, a maior parte da poesia romântica não teria sido escrita. Na obra de Álvares de Azevedo, poucos poemas se comparam à beleza de “Se Eu Morresse Amanhã”. O poeta deu o último suspiro aos 20 anos.

Assim também se foram para sempre Castro Alves, com 24 anos; Casemiro de Abreu, com 21 anos; Junqueira Freire, com 22 anos. Já Fagundes Varela, contrariando a tendência da época, partiu aos 33 anos, e Gonçalves Dias, já um ancião: aos 4l anos. Mas isso são histórias do século XIX, quando a existência mais longa não estava na moda. Hoje, mais do que viver simplesmente, está na moda á alegria de viver. De viver com saúde e bem.

Sim, a ciência tem feito grandes progressos, ampliando o nosso tempo de existência no mundo, pondo ao nosso alcance novos recursos para uma existência mais saudável. A existência ganhou em qualidade, prorrogando a saúde, sem com isso perder os benefícios da longevidade bem-vinda, que nos encontra com a cabeça boa e os cinco sentidos bem conservados. E tem sido isso o que vemos todos os dias: as pessoas se sentem cada vez mais jovens cada vez menos velhas. Como sinais exteriores, o jeans, a bermuda, a camiseta e o tênis deixaram de ser de uso exclusivo dos jovens e foram incorporados por gentes de todas as idades, homens e mulheres, tios e tias, avós e avôs, numa democratização dos costumes.

A fantasia de permanecer jovem para sempre acompanha o ser humano, provavelmente, desde o início da civilização. Embora seja impossível deter a marcha do calendário, nos últimos anos a medicina deu passos largos no sentido de retardar processos ligados ao envelhecimento. Primeiro vieram às melhorias nas condições sanitárias, a descoberta das vacinas e dos antibióticos, e ainda dos recursos para combater as doenças como, o diabetes, os males cardíacos e alguns tipos de câncer. Todos esses avanços resultaram na adição de anos de expectativa de vida da população. O que se procura é proporcionar qualidade de vida a uma existência feliz às populações que estão vivendo mais. Nas últimas três décadas, a expectativa da existência aumentou em onze anos no Brasil. As doenças crônicas do coração e dos pulmões bem como as artrites, aparecem atualmente, entre 10 e 25 anos depois do que surgiam em gerações passadas. Os 60 anos de idade são os novos 50. Os 50 anos são os novos 40 anos, e assim por diante. Esse atual cenário, em que os males associados à idade chegam cada vez mais tarde, promove mudanças profundas na maneira de encarar o envelhecimento. “A idade cronológica está deixando de ser um parâmetro determinante da juventude e da saúde de uma pessoa”, diz o geriatria Renato Maia Guimarães, presidente da Associação Internacional de Gerontologia e Geriatria. Hoje vivemos mais e queremos viver cada vez melhor.

O nascimento é o início desse processo irreversível e estamos fadados a envelhecer. As incontáveis reações químicas e renovações celulares que se dão ao longo da existência são, cada uma, pequeninas etapas que levam, até o último grau, à senescência das células e do organismo. Sabe-se também, que o peso de cada um dos fatores para o ritmo com que um organismo perde o viço não segue um único padrão – ele muda em cada pessoa. Mas, afinal, o que nos faz envelhecer? Por que as células não se mantêm saudáveis indefinidamente?

As teorias que tentam explicar o envelhecimento, se dividem em dois grupos O primeiro abrange um cronograma pré-estabelecido pela natureza – o mesmo que determina, por exemplo, que o cérebro da criança se desenvolva e que o aparelho reprodutivo dos adolescentes amadureça. O segundo grupo aposta no ambiente como o grande vilão da juventude. Segundo eles, o impacto de agentes externos ao organismo causaria danos às células que, acumulados, inviabilizariam o funcionamento a contento do corpo depois de anos. A maioria dos cientistas considera que as duas vertentes não se excluem – provavelmente, o processo é resultado tanto da máquina pré-programada pela natureza quanto de fatores ambientais que a alteram.

Muitos estudos científicos recentes se ocupam da identificação de fatores de risco e de formas eficazes para prevenir doenças ou aumentar a chance de se ter uma existência saudável por mais tempo. Nos anos 50, o foco eram as doenças cardiovasculares. Nessa época, o fumo, o colesterol alto e a hipertensão entraram na lista negra dos cardiologistas. Os estudos que identificaram esses fatores como inimigos da saúde e da juventude do organismo humano marcaram o começo de uma revolução que ainda está em curso na medicina e não tem data para acabar. Nos últimos anos, criaram-se exames que possibilitam a detecção de tumores minúsculos e descompassos hormonais mínimos. Com isso, aumentou-se a probabilidade de cura de cânceres ou de melhorar as condições de quem sofre de hipotireoidismo, que deixa a glândula tireóide mais preguiçosa e compromete a qualidade de vida dos pacientes.

Abandonar as 5.000 substâncias tóxicas que cada tragada de cigarro leva ao organismo pode fazer com que a nossa existência se prolongue por mais cinco anos. Praticar atividades estende o tempo de existência de qualquer pessoa. Nos últimos anos, houve a comprovação científica de uma hipótese formulada pela ciência na década de 60 – a de que os aspectos emocionais têm papel relevante no prolongamento da juventude. Um estudo recente da Universidade de Boston, revelou que o otimismo e o bom humor ajudam á viver mais tempo. Dormir bem, também ajuda na conquista da longevidade. Durante o sono profundo ocorre a liberação de hormônio do crescimento, o GH, que é uma das grandes fontes de juventude do corpo: favorece a fixação da massa muscular e dos minerais nos ossos, melhora o desempenho físico, a sustentação da pele e até mesmo o brilho dos cabelos. A falta de dormir causa uma redução ainda mais drástica no organismo. “Essa é uma das razões de nos sentirmos envelhecidos depois de dormir mal ou não dormir”, afirma a biomédica Deborah Suchecki, da Universidade Federal de São Paulo. À medida que o conhecimento sobre o corpo humano avança, uma nova gama de teorias surge. Cada vez que uma célula se divide ela não se reproduz mais, não substitui a antiga e acaba morrendo – a falta de reposição das células que morrem é um dos fatores cruciais do declínio do organismo humano. Enquanto a ciência não desvenda por completo os mecanismos do envelhecimento, o mais sensato é seguir as recomendações que hoje se tem para manter a máquina humana funcionando sem pane – e por muito tempo.

Hábitos saudáveis são a garantia de juventude prolongada e de melhor qualidade de existência na velhice – mesmo quando são adotados mais tarde.
Atividade Física – Comece a praticar uma atividade mesmo aos 50 anos; ela aumenta a expectativa de vida em 5 anos. O exercício ou atividade regular também pode ajudar a retardar em 3 anos o aparecimento de doenças cardíacas. O organismo humano foi criado para viver sempre em movimento, e quando isso não acontece, o corpo definha rapidamente;
Dieta Balanceada – Alimentação regrada aumenta em 3 anos a expectativa de vida. Um corte no consumo de sal, gorduras saturadas e carboidratos, ajudam a diminuir a barriga, a taxa de açúcar no sangue e o colesterol. Isso significa prevenir ou controlar problemas como diabetes em pessoas acima de 40 anos de idade. Menos comida, mais vigor. Já foi comprovado que as pessoas se beneficiam com uma alimentação frugal;
Parar de Fumar – Depois de dez anos sem fumar, o risco de um ex-fumante desenvolver tumores de pulmão, já é igual ao de uma pessoa que nunca fumou. Abandonar o fumo melhora o desempenho das atividades do organismo;
Medicação Correta – Respeitar as doses e os horários indicados pelo médico é uma forma de evitar reações adversas ou doenças que podem fugir do controle. Em outras palavras: a auto medicação é um perigo.

Fatores que contribuíram para o salto na expectativa de vida:
Higiene – Em meados do século XIX, o médico húngaro Ignaz Semmelweis descobriu que lavar as mãos diminuía o risco de propagação das doenças. O procedimento tornou-se obrigatório nos hospitais e entrou nos hábitos da população em geral;
Saneamento Básico – A partir do século XIX, obras de saneamento, que incluem acesso á água potável e coleta de esgotos, reduziram drasticamente o risco de proliferação das doenças infecciosas;
Insulina – Até o início do século passado, a diabetes era uma doença fatal. O isolamento da insulina, em 1921, mudou a expectativa de vida dos doentes;
Antibióticos – Em 1928, o médico-bacteriologista escocês Alexander Fleming observou, por acaso, que uma substância produzida por fungos era bactericida. Nascia, assim, o primeiro antibiótico, a penicilina, que colocou sob controle as doenças infecciosas;
Estudos Epidemológicos – Iniciados nos anos 50, ajudaram a mudar os rumos da
medicina, baseada em evidências. O estudo de Framingham, em andamento desde 1948, que acompanhou moradores de uma cidade americana, possibilitou a descoberta de que o colesterol alto é inimigo da saúde do coração;
Vacinas – A primeira vacina, contra a varíola, foi criada pelo inglês Edward Jenner,
no ano de 1796. As vacinas estão entre as principais armas contra a mortalidade infantil, prevenindo 2 milhões de crianças, por mortes prematuras e imunizando os idosos de inúmeras doenças.

Vivemos hoje um melhor tempo, que ilumina os nossos dias e enche de luar as nossas noites. A idéia do amor à vida e à felicidade em qualquer idade não é nova, mas por muito tempo esteve camuflada por outras idéias: a de que o prazer é privilégio da juventude. Não é. Vale lembrar que o amor à vida e à felicidade é um patrimônio de todos e para terminar, uma reflexão de Sófocles, feita 400 anos antes de Cristo: “Ninguém ama tanto a vida como a pessoa que envelhece”.

Velho é o mundo; quando aqui chegamos já existia e quando formos embora ele continuará existindo. Nós, humanos, somos apenas idosos em corpos, ainda crianças e adolescentes na criação Divina. . .


Bibliografia:
Manoel Carlos
Revista Veja nº. 2121 – 15/7/2009
Acréscimos, supressões e modificações.

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