sábado, 6 de outubro de 2012

A PRESENÇA DO SOFRIMENTO

A PRESENÇA DO SOFRIMENTO O Amor é a lei maior do Universo. Ela se expressa de várias maneiras, desde as formas mais singelas de vida. Tudo é beleza, harmonia e esplendor no Plano Divino, no entanto parece que há algo errado na existência do ser humano – o sofrimento. Esse fenômeno visita todos os lares e corações, desde o ignorante até o homem de cultura, da choupana ao palácio. Atinge os seres em todos os países, em todas as idades, em diferentes condições sociais e econômicas. Todos sofrem neste planeta; ninguém consegue ficar ileso a ele. Que contradição! Sendo tudo Amor no Universo, o ser humano sofre muito em escala individual e coletiva. Teria Deus criado o sofrimento para seus filhos? Concebendo o Criador como a perfeição e a misericórdia, isso é inadmissível, mas o certo é que o sofrimento nos segue; faz parte da história humana e, através dele é que a civilização avança em discernimento e luz espiritual. Se o sofrimento não é proveniente da vontade de Deus, nem da fragilidade humana, pois somos fortes e dotados de infinitos recursos para viver, de onde então vem o sofrimento? – A resposta é muito simples: da conduta do ser humano. Esse sofrimento provém de três causas distintas: Como provações, como expiações e como abnegações. Como provação, vem para resgate dos débitos contraídos para com a Justiça Divina. Na provação o espírito reencarna com uma programação feita na Espiritualidade da qual participou. Na expiação, o sofrimento imposto ao espírito foi programado pelos mentores espirituais, como compulsório, por se recusar ele em reconhecer seus débitos e não querer passar por resgates. Na abnegação o espírito vem como missionário, com existência difícil enfrentando privações e sofrimentos para dar o exemplo de resignação, igual á passagem evangélica do homem que nasceu cego, não por sua culpa ou dos pais, mas para que “se manifestassem nele as obras de Deus...” João 9: 1 a 3. Considerando a harmonia universal, e as leis que regem a vida espiritual e a existência do ser humano, aprendemos na Doutrina dos Espíritos que todo sofrimento é advindo da nossa intervenção nessa harmonia; de um desarranjo nos propósitos superiores da vida, que podem ser reparados por um ato de amor ou, caso isso não ocorra, por uma reparação pela dor. Por isso sempre ouvimos dizer que “quem não vai pelo amor, vai pela dor”. Quando nos equivocamos na existência, quando seguimos na contramão das leis, por ignorância ou vontade própria, repetimos a lição, a fim de aprendermos a discernir o que é certo e o que não deve ser feito, ocasião em que o senso moral vai sendo construído. Se, insistimos em continuar no erro, por teimosia, revolta, egoísmo, ou por vantagens materiais, abrimos espaço para que se instale o sofrimento, como meio de reparação da desarmonia criada. Se quiséssemos corrigir os erros que estamos cometendo, não haveria necessidade de passarmos por rigorosas lições de sofrimento. A questão é que não nos corrigimos o que seria mais razoável, mas unicamente nos livramos dos problemas sem esforço, na busca de prazer e conforto material. Os seres humanos são vítimas de doenças orgânicas e psíquicas, e todos se esforçam por se verem livres delas. Esses doentes em geral supõem que a Doutrina dos Espíritos realiza milagres e produz curas maravilhosas, a exemplos de outros que prometem e dizem que fazem. Por isso, as Casas Espíritas estão sempre recebendo doentes que, já havendo esgotado os recursos fornecidos pela medicina convencional, procura encontrar nela, como última tentativa de recuperação, a saúde desejável. A verdade, porém, é que se as moléstias forem passageiras, sararão com os cuidados médicos e remédios receitados, às vezes, até com chás caseiros; mas, em se tratando de doenças que são provações de resgates do espírito, para liquidação de dívidas perante a Lei Divina, tornam-se elas necessárias ao reequilíbrio espiritual do doente. Os cuidados da ciência médica, os tratamentos espirituais podem melhorar o estado do doente, dando-lhe a esperança e a resignação, mas não vai alterar a situação satisfatoriamente, e a doença seguirá seu curso, a não ser que haja o merecimento ou a misericórdia divina a se manifestar. Nos casos de resgates, os Espíritos Protetores não poderão também eliminar os motivos que impedem a recuperação do doente, para não prejudicá-lo, ao invés de ajudá-lo como muitos pensam. Meditem os doentes de que a ocorrência de doenças sérias é sinal certo de que estão sendo impulsionados para a libertação espiritual, transpondo obstáculos no caminho da evolução. Auxiliemos o processo, cuidando do corpo “o jumentinho da alma”, como dizia Francisco de Assis, aceitando o que não pode ser modificado e nem se torturando em busca de um restabelecimento que nem sempre pode se dar, nem convém que às vezes seja dado, para não aumentar a dívida, e não vamos julgar a doença uma infelicidade, um mal irreparável, quando na verdade é a quitação com a Justiça Divina, ou foi escolhida por nós mesmos, ao retornar a nova existência na Terra. Considere o sofredor, como é imensa a bondade de Deus que, conhecendo nossa fraqueza e atendendo nossas súplicas, nos permite a assistência e consolações espirituais atentas e carinhosas, não só por parte dos nossos entes queridos na Terra, como também dos desencarnados afins e dos protetores espirituais. Por isso Jesus disse: “Bem-aventurados os que choram porque serão consolados”, prometendo compensações quando falou aos sofredores. Você, prezado irmão/irmã, deve acreditar nas palavras de Jesus. Há alguns anos conheci um menino que viveu até os 18 anos, tetraplégico, mudo, praticamente incomunicável com o mundo exterior. Vivia ele sob os cuidados da sua mãe que zelava por ele como se ele fosse à coisa mais preciosa do mundo. Somente seus olhos, com o brilho da vida que palpitava em seu interior, se expressava cheios de mensagens e significados. Nascendo já com todos os limites e motivos para desistir da existência, ele lutou e sobreviveu por alguns anos. Contra todas as expectativas médicas e fisioterápicas, conseguiu ele desenvolver alguns movimentos e articular alguns sons, como comunicação com seus pais. A alegria espontânea, transparecendo no brilho dos seus olhos, era vida que transbordava de sua alma, como a dizer a todos nós ao seu redor: “Vejam, não posso nada, dependo de alguém, até para coçar meu nariz, mas sou feliz porque posso aprender alguma coisa com a vida.” Eu ficava imaginando quando o visitava que, se ele pudesse falar perguntaria: “Como é caminhar pela rua em dia de sol, tomar banho de chuva, trocar a própria roupa? Como é falar ao telefone, fazer um carinho, pintar uma tela, sentir o vento no rosto? Como é cantar uma música ou andar de bicicleta; assistir a um filme comendo pipoca? Qual é a sensação quando se olha o firmamento, a lua cheia, andar de carro ou pentear os próprios cabelos? Lembro também de uma senhora idosa chamada Vicentina que durante a sua vida útil serviu a várias famílias e quando ficou impossibilitada de trabalhar, por motivo de doença, e por não ter parentes que a acolhessem na capital, foi internada no Asilo de Mendicidade, onde permaneceu por muitos anos acamada, por estar paralítica e cega, e que era de uma humildade e resignação nunca visto em outra pessoa. Para ela tudo estava bem e bonito, e tratava as pessoas com tanta amabilidade que nos comovia, apesar de todo o seu problema. Ao lembrar-me disso, percebi o valor de tudo aquilo que muitas vezes não somos capazes de reconhecer como bênçãos em nossas existências e que só realmente valorizamos quando as perdemos. Quantos de nós vivemos nos queixando de tudo e desprezando as chances de realizar algo de útil, desperdiçando nosso tempo em atividades fúteis que nada nos acrescenta. Aquele jovem e aquela idosa, mesmo diante de sua terrível prisão orgânica, vivendo somente uma vida interior, sem sofrerem a tortura de uma consciência alucinada, qual um alcoólatra ou um drogado. Porém, uma coisa o dependente tinha como vantagem sobre a situação daqueles dois imobilizados. Ele podia sair da situação na hora que quisesse; podia recuperar sua liberdade e dignidade; era só querer e lutar. Lutar pela própria existência que desprezava. Para isso ele precisava apenas saber o quanto é importante usufruir, a saúde e a existência. A autodestruição tem um saber amargo, enquanto a autolibertação tem um saber divino. Todos nós somos capazes; todos nós podemos conseguir... só depende de querermos, de lutar para melhorar ou mudar. É importante refletirmos na função educativa do sofrimento num planeta em que há predomínio dos interesses materiais, em detrimento da busca espiritual. Como terapeuta dos nossos tormentos, o sofrimento tem um especial papel no processo de crescimento do ser humano a caminho de Deus. Muito embora vivamos orientados para o sucesso material, há em todo ser reencarnado um estímulo ao que é divino e superior, e é por isso que vibra em todos nós um forte impulso de amor e um sincero desejo de realizarmos o que é essencial, afastando-nos do que consome nossas forças nas experiências terrenas. Aos poucos vamos percebendo que o sofrimento é um mecanismo da inteligência superior do Universo – Deus, a fim de lembrar constantemente Sua criação, (ser humano) do verdadeiro sentido da existência. O sofrimento não é imposto por Deus como meta de equilíbrio, sua intensidade e duração, foi ele escolhido por cada criatura antes de reencarnar. Ensina-nos um pensador da ciência psicológica que “o sofrimento é sinal da disponibilidade de energia para transformar situações; é a maneira que a razão tem de indicar uma atitude ou comportamento errado e, para a pessoa que não é revoltada, cada momento de sofrimento é uma oportunidade de crescer”. Não seria interessante, então, mudarmos nossa forma de interpretar o sofrimento? Em vez de usarmos a queixa e/ou a revolta no momento de aflição, de dificuldade no caminho evolutivo, não seria melhor ponderar “O que devo mudar?” Entendendo a dor e o sofrimento como mecanismos de profunda reflexão do ato de viver, quando ele se aproximar, vejam as mudanças necessárias antes que a aflição se instale em nós, para que não seja atormentado o presente e complicado o futuro. Nós somos os causadores de nossos infortúnios, porque recusamos atender o chamado divino e uma existência com mais consciência e dentro das leis do Senhor. O ponto em que nosso planeta se encontra como mundo-escola, em contínuo avanço, nos convoca a uma renovação de padrão mental, a refletir-se em atitudes novas, mais justas e caridosas. Enquanto permanecermos numa existência de interesses próprios, o entendimento de Vida Eterna ficará adormecido. Mas, a partir do instante em que nossa existência se amplia, o entendimento de Vida Eterna se aplica ao cotidiano, nos gestos simples que movimentam nossos dias, na descoberta de recursos valiosos para o progresso de todos, transformando experiências em lições preciosas para o nosso Espírito imortal. Às horas de intranqüilidade que marcam o ponto evolutivo da Terra, sucederão períodos de muita paz, e toda pessoa que já aceitou o sofrimento como mensageira da mudança do espírito para uma situação melhor, desfruta desde logo, do justo crescimento das almas que sabem converter lágrimas em esperança. Como forma de esclarecimento nos caminhos de luz, é preciso compreender que são “bem-aventurados os que choram”, que aceitam o sofrimento com resignação; que diante do sofrimento, não perguntam: “Por quê?”, e sim: “Para que?” O sofredor a que se refere Jesus, é o dos corações que sabem que é bem melhor quitar, que prorrogar com mais dívidas, o seu débito para com a Justiça Divina; é reconhecer que com o Mestre a dor é benção e progresso. Assim, o sofrimento tem a marca abençoada da redenção. Esses que assim aceitam são como bem disse Emmanuel: “os que recebem o sofrimento transitório da existência terrena, por bendita e honrosa oportunidade de crescimento, com bondade e paciência, resignação e esperança”. O sofrimento nos restaura, abrindo portas para o amor, que nos equilibra e nos alerta, como a nos dizer que o mundo é um lugar de passagem e não o fim da jornada da vida. Cabe-nos, portanto, realizar nele o melhor que pudermos. Evitar todo tipo de agressão a si mesmo, aos semelhantes e ao meio em que vive. Estamos em processo de evolução a caminho de Deus, nosso Pai Celestial. Bendita é a dor que nos arranca da indiferença e nos faz seguir as leis do Senhor, passando a viver em função dos Seus propósitos e amor e bondade. A Terra passa por momentos difíceis, de aferição dos nossos valores. Jesus convoca-nos a fazer parte das fileiras do Bem, para trabalharmos com Ele na implantação de um reino de Paz, que se inicia no coração de todo aquele que já se cansou das tentações do mundo e se compromete de vez, com o plano Divino. Atendamos ao Seu chamado e veremos multiplicada a alegria que nos falta, porque o ser humano que segue o caminho da luz, já não mais vive para si; vive para a glória do Pai, na benção da Vida Eterna. A posição espiritual de cada um de nós está na razão direta da permanência do sofrimento em nosso viver... Isso nos faz concluir que AMOR E SOFRIMENTO são mecanismos que funcionam em situações independentes: Sabemos então que, quando um se aproxima de nós, o outro se afasta... Se Deus é o Pai de infinita bondade e justiça, não pode Ele agir com parcialidade. As vicissitudes da existência têm assim uma causa, e, uma vez que Deus é justo, o sofrimento também deve ser justo. Jesus nos prometeu as compensações e o “Consolador” prometido por Ele, que é a Doutrina dos Espíritos, vem revelar as causas das aflições. Elas têm duas fontes bem diferentes; uma na existência atual, e a outra em existências anteriores, onde contraímos as dívidas. As da existência atual são resultados da nossa imprevidência, do nosso egoísmo, da nossa falta de caridade e amor para com nossos semelhantes, da nossa ambição. Quantas uniões infelizes realizadas que nada tem com o coração; quantos males e enfermidades, conseqüências de excessos de todos os gêneros; quantos pais infelizes com seus filhos, porque não combateram suas más tendências quando ainda eram crianças; quantas pessoas arruinadas por má conduta... Que todos aqueles que passam por sofrimentos interroguem a consciência, e verão se não podem dizer: Se eu tivesse ou não tivesse feito tal coisa, eu não estaria hoje em tal situação. Ha males que achamos estranhos e que parecem nos atingir por fatalidade, cuja compreensão somente a Doutrina dos Espíritos sabe explicar. O ser humano nem sempre resgata suas faltas na mesma existência, embora não escape jamais da Lei Divina. Os sofrimentos que fizemos os outros passarem, teremos que passar também, e ainda com acréscimos. Assim, o que causou aleijão ao seu semelhante poderá voltar aleijado; o que usou mal a fortuna poderá voltar em extrema miséria; o que foi orgulhoso voltará em condição humilhante; o que usou mal a palavra pode voltar mudo; o que usou mal os olhos pode vir sem a visão, e assim por diante. Nas várias existências, vamos resgatando nossos débitos para com nossos semelhantes e a Justiça Divina, e, para os que sofrem com resignação é que Jesus afirmou: “Bem-aventurados os aflitos porque serão consolados”. Entretanto, nem todas as aflições e sofrimentos são resgates de dívidas, porquanto muitos Espíritos já com maior evolução espiritual, aceitam as provas da existência terrena, sofrendo todas as dores e dificuldades com humildade, resignação e sem lamentações, como missão de exemplo de vida aos outros e na sua própria melhora espiritual. Eis a resposta para os casos que mencionei acima, do jovem e da idosa. Todas estas orientações e muito mais outras, sobre os “porquês” da nossa existência terrena, podem ser encontradas no livro “Evangelho Segundo o Espiritismo”. Que a Paz do Senhor nos assista na nossa existência. Bibliografia: Evangelho de Jesus “Evangelho Segundo o Espiritismo” Jc. S.Luis, 01/2001 Refeito em 15/9/2012

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