sexta-feira, 28 de novembro de 2014

INFIDELIDADE




 A infidelidade não é um desvio de caráter, mas um comportamento-padrão a evitar, afirma um psicólogo após estudar durante alguns anos milhares de casais.
As traições sempre aconteceram em todos os tempos. Clássicos da literatura, como Anna Karenina, de Liev Tolstói, Madame Bovary, de Gustav Flaubert, e O Primo Basílio, de Eça de Queiroz, trataram do poder destruidor da infidelidade. Mesmo assim, pesquisas mundo afora mostram que o número de adúlteros, entre homens e mulheres, só cresce – talvez porque mais pessoas tenha coragem de admitir. Pouco se avançou em tentar explicar as razões que levam à quebra do pacto de confiança e exclusividade, e entender como evitá-la.
Em “o que faz o amor durar” (editora Fontanar), o americano John Gottman, doutor em psicologia e pesquisador na Universidade de Washington, apresenta uma nova forma de olhar para esse desvio. Ao lado da mulher, também psicóloga Julie Schwartz Gottman, ele estuda o comportamento de casais há mais de quatro décadas. Para ele, existe um padrão de comportamento que leva à quebra do pacto, e há muitas formas de infidelidade independentes da temida traição física. “Nossa cultura relaciona a infidelidade a um desvio de caráter ou falta de disciplina, mas isso não é verdade”, diz Gottman. E complementa: “A maioria das traições não é causada pelo desejo sexual, mas sim por alguma carência afetiva”.
Um relacionamento amoroso convencional é um contrato de confiança, respeito e proteção mútua. Tudo que viole esse contrato constitui infidelidade. Trair vai além da intimidade física com outra pessoa. Além dessa, outros dez tipos de infidelidade existem na lista do psicólogo John Gottman:
Comprometimento condicional: Não se está inteiro na relação. O comprometido flerta e se mantém “atento ao mercado”;
Intimidade sem sexo: Há uma relação íntima com um terceiro, com quem troca confidências, e não conta isso ao parceiro/a;
Mentira: Cansado de discutir, um parceiro passa a mentir sobre coisas banais, como um jeito fácil de ficar em paz;
Aliança contra o parceiro: Um dos parceiros se une regularmente a um terceiro – parente ou amigo – para criticar o outro parceiro;
Ausência e frieza: O parceiro não detecta as necessidades emocionais do outro nem se esforça para aprender ou reaprender;
Perda de interesse sexual:  Desaparece ou diminui muito a atração pelo outro. Não há tentativa nem vontade de reavivar o interesse;
Desrespeito: Não há preocupação em ser gentil e amoroso com o outro. Grosseria e indiferença tornam-se parte da rotina;
Egoísmo:  Atenção apenas às próprias necessidades. Ocorre muito por medo de uma situação nova, como a chegada de um filho;
Injustiça: As decisões deixam de ser tomadas de comum acordo. Uma das partes impõe regularmente sua vontade;
Rompimento de promessas:  O casal faz um pacto (Como guardar dinheiro) e um deles quebra o acordo sem consultar o outro.
Apesar das credenciais acadêmicas de Gottman, alguns estudiosos questionam esses padrões na infidelidade. “Em relacionamentos, é difícil definir regras que sirvam a todos”, diz a antropóloga Mirian Goldenberg, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, autora do livro “Por que homens e mulheres traem?”. Ela estuda a infidelidade há mais de 20 anos. “Nos casos que estudei, cada casal funcionava de um jeito; não há um padrão”.
Gottman discorda. Afirma ter detectado um ciclo de ações e reações que mais comumente levam casais a sucumbir a quaisquer desses tipos de infidelidade, inclusive a física. Chama o primeiro estágio de “estado de negatividade”. Tem início quando um dos dois deixa de dar atenção ou apoio ao outro. Quando o sentimento de mágoa por essa falta não se expressa, ele também não é esquecido. O lado magoado passa a provocar o outro. Isso torna os atritos mais frequentes e leva ambos a assumir uma atitude defensiva. A comunicação fica mais difícil e está instalado o estado de negatividade. E aí começa a segunda etapa do ciclo que leva à traição: As comparações negativas.
Nesse ponto, um dos parceiros compara seu companheiro/a ao perfil de um estranho na internet, a um colega de trabalho, a um parceiro do passado ou a um amor platônico a maioria das comparações, o cônjuge perde, porque, no estado  de negatividade, é difícil perceber e lembrar as qualidades do outro. O distanciamento e a frustração criam o ambiente propício para a traição física e para os outros dez tipos de infidelidade.
 A estratégia mais aconselhável para manter-se um bom relacionamento, segundo Gottman, é evitar o início do ciclo, em vez de tentar interrompê-lo depois. E para isso é preciso conversar e expressar as emoções sobre os incômodos. É necessário também manter em dia o pacto e as combinações. Se uma parte não tem condições de cumprir o combinado, é melhor conversar e mudar o pacto, em vez de desrespeitá-lo continuamente. Ele ensina ainda técnicas que fazem a conversa render, como usar mais “eu” do que “você”. A ideia é mais explicar ao outro o que se sente e menos fazer críticas.
Os casais devem atentar para todas as formas de infidelidade e considerá-las sinais sérios. Melhor que tentar resistir às tentações, é impedir que elas se realizem...
O adultério, ás vezes, é consequência da infidelidade. Ele é condenado por Jesus, quando disse: “Aprendestes o que foi dito aos Antigos: Não cometereis adultério. Mas eu vos digo que todo aquele que tiver olhado uma mulher com um mau desejo por ela, já cometeu adultério com ela, em seu coração”. A verdadeira pureza não está somente nos atos, mas também no pensamento, porque aquele que tem o coração puro não pensa mesmo no mal; foi isso que Jesus quis dizer: Ele condenou o pecado, mesmo em pensamento, porque é um sinal de impureza.
À medida que o ser humano avança espiritualmente, se esclarece e se despoja, pouco a pouco, de suas imperfeições, segundo a vontade que emprega em virtude do seu livre arbítrio. Todo mau pensamento, pois, resulta da imperfeição da alma. Mesmo um mau pensamento torna-se para a alma uma ocasião de adiantamento, porque o repele com energia e não cederá se apresentar-se uma ocasião para satisfazer um mau desejo; e depois que tiver resistido, sentir-se-á mais forte e alegre com sua vitória. Aquele, ao contrário, que procura a ocasião para o ato mau, e se não realiza porque lhe falta oportunidade; ele é, pois, tão culpado como se o cometesse.
A pessoa que não concebe o pensamento do mal, o progresso já está realizado; naquele a quem vem esse pensamento, mas ele o repele, o progresso está em vias de se cumprir; naquele, enfim, que tem esse pensamento e nele se compraz, o mal está ainda com toda a sua força. Deus que é justo e misericordioso considera todas essas diferenças na responsabilidade dos pensamentos e dos atos do ser humano. Quem ama verdadeiramente, não pratica a infidelidade...

Fontes:
Revista Época – 11/8/2014
Jornalista Natália Spinacé
“Evangelho Segundo o Espiritismo”-  cap. VIII
+ Pequenas modificações

Jc.
São Luís, 18/8/2014

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