quarta-feira, 21 de setembro de 2016

UMA PERIGOSA RETALIAÇÃO






 Acuado pela Operação Lava Jato, o presidente do  Senado, Renan Calheiros, resolve fazer o que não deveria: Trabalhar para impedir as investigações, em que ele está incluído. Flagrado nas gravações de Sérgio Machado, ele age para atrapalhar a Lava Jato.
Há pouco mais de um mês, vieram a público as gravações que o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado fez com próceres do PMDB. Entre eles, estava o presidente do Senado, Renan Calheiros. Nas conversas, Renan indicava sua preocupação em articular ministros do Supremo Tribunal Federal e parlamentares para “passar uma borracha” no país. Em tradução livre, Renan queria, com a borracha, apagar as investigações da Operação Lava Jato, que transformam o Brasil e o sitiam. Com base nessas gravações, o procurador geral da República, Rodrigo Janot, pedia a prisão de Renan – além da prisão do senador Romero Jucá e do ex-presidente da República José Sarney.
Não havia fundamentos suficientes para os pedidos de prisão. Assim como não há razão para o contra-ataque de Renan, na semana passada. O presidente do Senado desengavetou um projeto de lei de 2009 que prevê punições para agentes da administração pública e membros do Judiciário e do Ministério Público que cometam crimes de abuso de autoridade. Novamente, traduzindo,  Renan trabalha para proteger colegas parlamentares e a si próprio das ações da Polícia Federal e da Lava Jato.
A iniciativa pode parecer travestida de intenções republicanas, como a ideia de garantira ampla defesa ao acusado e a de proteger parlamentares que, no passado, foram perseguidos pela ditadura militar – ali sim privados do direito de se defender. Mas essas motivações soam inverossímeis para um acuado Renan que tem em mãos um pedido de impeachment contra Rodrigo Janot e um Congresso apavorado com os desdobramentos da Lava Jato.
O texto do projeto prevê penas de até quatro anos de prisão e multa para delegados, promotores, juízes, desembargadores, e ministros de Tribunais Superiores que incidam em situações consideradas abuso de autoridade. Entre elas, está o cumprimento de mandatos de busca e apreensão de “forma vexatória”.
Em outro ponto, o texto prevê prisão para quem cumprir diligência policial em “desacordo com as formalidades legais”. O projeto prevê ainda pena a quem negar, sem justa causa, acesso da defesa à investigação. São temas das reclamações diárias dos advogados e parlamentares alvos da Lava Jato. Renan as ouve, identifica-se com elas e, agora, conta com os colegas para aprová-la. Começando por Romero Jucá, um dos afetados pelas investigações: o projeto vai passar pela Comissão de Regulamentação da Constituição, presidida por ele.
A campanha dos procuradores da República prevê ações para coibir delitos que envolvam desvio de verbas públicas e atos de improbidade administrativa. Em vez de discutir ações que possam manietar a Lava Jato, os senadores deveriam debater medidas para que o Brasil avance no combate à corrupção. Poderiam, os senadores, começar pelas dez medidas propostas pelo Ministério Público Federal, contra a corrupção e a impunidade, a seguir:
1ª  Prevenção à corrupção, transparência e proteção a fonte de informação;
2ª  Criminalização dos enriquecimentos ilícito dos agentes públicos;
3ª  Aumento das penas e crime hediondo para corrupção de altos valores;
4ª Aumento da eficiência e da justiça dos recursos no processo penal;
5ª  Celeridade nas ações de improbidade administrativas;
6ª  Reforma no sistema de prescrição  penal;
7ª  Ajustes nas nulidades penais;
8ª  Responsabilização dos partidos políticos e criminalização do caixa 2;
9ª  Prisão preventiva para evitar a dissipação ou ocultação do dinheiro desviado;
10ª  Recuperação do lucro (dinheiro) derivado do crime.

Além dessas medidas, eis mais duas opiniões:
“Quando a política penetra no recinto dos Tribunais, a Justiça se retira por alguma porta.”             François Pierre Guillaume  Guizot

“Países cujas Constituições permitem que os políticos tenham foro privilegiados, e que os próprios políticos nomeiem os juízes dessa mesma Corte, são pocilgas, hospícios legalizados em forma de nações.”                                     José Márcio Castro Alves

Opinião da Revista Época + Internet
Edição de 4/7/2016

Jc.
São Luís, 11/8/2016

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