domingo, 30 de outubro de 2016

A EDUCAÇÃO E A INSTRUÇÃO






  É preciso não confundir a Educação com a Instrução.  A educação abrange a instrução, mas pode haver instrução sem a competente educação.  A Educação desenvolve os poderes do Espírito, não só na aquisição do saber, como também na formação e consolidação do caráter. A instrução, portanto, faz parte da educação, por isso é que se refere aos meios e processos empregados no sentido de orientar o ser humano, na aquisição de conhecimentos e de disciplinas.
A Instrução significa ilustrar a mente com conhecimentos sobre um ou vários ramos de atividades. O intelectualismo não supre o cultivo dos sentimentos. “Não basta ter coração; é preciso ter bom coração”, disse Hilário Ribeiro, educador emérito cuja competência pedagógica estava na altura da modéstia e da simplicidade que adornava seu Espírito.
“Não esperemos que os professores consertem as falhas na educação de nossos filhos. Em casa, devemos ensinar nossos filhos a: Cumprimentar, falar obrigado, ser limpo, ser honesto, ser correto, ser pontual, falar bem, não xingar, ser solidário, respeitar  as pessoas, mastigar com a boca fechada, não roubar, não mentir, ser organizado, cuidar das próprias coisas e das coisas dos outros. Na escola, se aprende: Artes, biologia, ciências, filosofia, física, geografia, gramática, história, línguas, literatura, matemática, português, química, sociologia, e é onde são reforçados os valores que os pais devem ensinar aos seus filhos”,  informa Pepe Mujica, ex-presidente do Uruguai.
Educação e instrução, razão e coração devem marchar unidos na obra da perfeição do Espírito, pois em tal importa o senso da existência.  Descurar a aprendizagem da virtude, deixando-se levar pelos deslumbramentos da inteligência, é erro de funestas consequências. Não há muito tempo, o presidente dos Estados Unidos citou um julgamento da “Suprema Corte de Justiça” de Massachusetts, no qual, entre outros princípios, foi anunciado de que “o poder intelectual só e a formação científica, sem integridade de caráter, podem ser mais prejudiciais que a ignorância. A inteligência superior instruída, aliada ao desprezo das virtudes fundamentais, constitui uma ameaça”.
Convém acentuar que a consciência religiosa corresponde, neste particular, ao fator principal na formação dos caracteres. A expressão –consciência religiosa – ao invés de religião, para  que não se confundam as ideias. Religião há muitas, mas a consciência religiosa é uma só. Por essa designação entendemos o império interior da moral pura e imutável  ensinada e exemplificada por Jesus. A consciência religiosa importa em um modo de ser, e não em um modo de crer.
É possível que alguém objete: mas, a moral cristã é tão velha, e nada tem produzido de eficiente na reforma dos costumes.  É         verdade, mas não pode ser velho aquilo que não foi usado. A moral cristã é, em sua pureza e em sua essência, desconhecida da Humanidade. Sua atuação ainda não se fez sentir nas pessoas. O que se entende por Cristianismo é a sua contrafação. Dessa moral cristã é que está dependendo a felicidade humana sob todos os aspectos. O intelectualismo, não vai resolver os problemas sociais existentes no mundo.
Jesus apresentou-se perante a Humanidade, como Mestre e Salvador, ao dizer: “Eu sou o vosso mestre”. Daí, por que Jesus arrogou a si a denominação de Mestre, considerando aqueles que o acompanhavam e todos que seguissem os seus ensinamentos, como seus discípulos. A missão de Jesus é precisamente comprovar aquele asserto, vencer os obstáculos conquistando  a Humanidade. Essa obra,  sendo  de  redenção divina, porque visa libertar o ser humano dos liames que o predem a animalidade, cujos vestígios, nele, são patentes, é portanto, uma obra de educação. Jesus veio nos trazer a verdade e fez tudo quanto lhe competia fazer para o cabal desempenho dessa missão que o Pai lhe confiara, mesmo com o sacrifício de sua existência terrena.
Quanto aos compromissos que veio desempenhar neste mundo, nós o vemos claramente através das atitudes que ele assumiu na sociedade terrena. Que fez Jesus? Começou reunindo algumas pessoas simples, arrebanhadas das camadas humildes, e lhes foi ministrando lições e ensinos por meio de singelas parábolas, prédicas e discursos vazados em linguagem popular, cimentando com exemplos edificantes tudo o que transmitia. A novidade da sua escola consistia sempre na divulgação destes princípios: Todos os seres humanos são filhos de Deus; porque todos têm a mesma origem. Da paternidade divina, decorre a fraternidade humana, isto é, todos os seres humanos são irmãos. Portanto, devem amar-se reciprocamente agindo em tudo segundo a lei de solidariedade.
O mestre não fornece instrução: mostra como ela é obtida. Ao discípulo cumpre empregar o processo mediante o qual adquirirá a instrução. Ao mestre compete ainda dirigir e orientaras forças do discípulo, colocando-o em condições de agir por si mesmo na conquista do saber. Resta, portanto, que o ser humano, o discípulo, faça a sua parte para entrar na posse da verdade, essa luz que ilumina a mente, consolida o caráter e aperfeiçoa os sentimentos. Os que deixarem de preencher essa condição, continuam nas trevas, na ignorância, e nelas permanecerão até que peçam e procurem por essa luz.
Jesus veio nos trazer a redenção. É por isso nosso Salvador. Mas só redime aqueles que amam a liberdade e a luz e se esforçam por alcançá-la. Os que se comprazem na servidão das paixões e dos vícios não têm em Jesus um salvador. Continuarão como escravos até que compreendam a situação  em que se encontram, e almejem conquistar a liberdade.
A redenção, como a educação, é obra que se realiza gradativamente no transcurso eterno da vida; não é obra miraculosa que se realiza num dado momento ou numa única existência. O papel que cabe ao mestre é instruir e educar. Entendemos por educação o desenvolvimento dos poderes psíquicos que todos possuímos em estado latente, como herança havida D’aquele de quem todos nós procedemos. Pestalozzi define assim a matéria ora em apreço, dizendo o seguinte: “Educação é o desenvolvimento harmônico das faculdades do indivíduo.” Ao cultivarmos, esta ou aquela faculdade do Espírito, não devemos desdenhar as demais.
Verifica-se em geral, por parte dos pais, uma grande preocupação – até certo ponto louvável – sobre a educação dos filhos no que diz respeito á inteligência. Querem vê-los com um pergaminho, aureolados por um título que os habilite ao exercício duma profissão, a qual, não só lhes assegure a independência econômica – o quê importa em justa aspiração - mais ainda a riqueza, fama e glória.  O futuro da prole é visto desse prisma utilitário e vaidoso. Antes de tudo, os pais devem cuidar da educação moral dos filhos, deixando às inclinações e vocações de cada um, a escolha da sua profissão.
Há evidentemente uma ilusão nessa maneira de ver e proceder, porque, nós os pais, somos vítimas do egoísmo com que  nascemos. Queremos vê-los com o diploma e alvo de aplausos e louvores, dando-nos a falsa ideia de havermos cumprido perfeitamente o nosso dever com relação àqueles que a providência Divina nos confiou para orientá-los na sua caminhada pela estrada da existência. Não cogitamos do que concerne às qualidades morais, à formação e consolidação do caráter, em fazê-lo homem de bem, caridoso e honesto, com aquele mesmo interesse e afã que empregamos na ilustração do seu intelecto.  Preocupamo-nos muito mais com o cérebro do que com o coração. Fazemos tudo para enriquecê-lo de bens materiais, deixando-os, às vezes, pobres de valores morais e de sentimentos.
O que se dá é que geralmente se imagina que o ser bom, justo e verdadeiro, o ser sincero e amável não requer aprendizagem. Supomos que tudo isso seja coisa tão natural e comezinha que não constitui matéria que deve ser ensinada! Imagina-se que essa parte da educação, incontestavelmente a mais excelente,  há de efetuar-se por si mesma, à revelia de cuidados, que são dispensados a outras modalidades de educação.
Tal é o grande erro generalizado que é preciso corrigir. A ideia de geração espontânea é quimérica. Do nada, nada se tira... Tudo o que germina, germina de uma semente. Tudo que envolve, envolve dum germe ou embrião. Não podemos esperar que aflore na alma da mocidade, qualidades nobres e elevadas sem que, antes, tenhamos feito ali uma sementeira.
Todos os problemas do momento atual se resumem em uma questão de caráter: só pela educação podem ser solucionados. Demasiada importância se dá às várias modalidades do saber, esquecendo-se do principal, que é a ciência do bem. A crise em que se encontra o mundo é a crise de caráter, responsável por todas as outras crises. O momento atual reclama a ação de homens honestos, escrupulosos, possuídos do espírito de justiça e cientes das suas responsabilidades. Temos vivido sob o despotismo da inteligência, porém, devemos sacudir-lhe o jugo fascinador, proclamando o reinado do caráter, o império da consciência, da moral e dos sentimentos nobres.
Honestidade, espírito de justiça, noções do dever são como as artes, virtudes que se adquirem tal como é adquirido o saber neste ou naquele ramo de atividades. Tudo na existência depende de estudo, aprendizado, constância, experiência e trabalho. A sementeira do bem e da verdade, da justiça e do amor, nunca se perde. A obra da redenção humana é obra de educação, e Jesus é o divino educador...
A retórica deixou aos Tullios e aos D        emóstenes; a filosofia aos Platões e aos Aristóteles; as matemáticas aos Ptolomeus e aos Euclides;  a medicina aos Apolos e aos Esculápios; e ainda, a jurisprudência aos Eolões e aos Licurgos; e para si, Jesus tomou só a ciência de tornar bons e salvar os seres humanos.
Fonte:
Livro “O Mestre na Educação”
Autor: Pedro de Camargo (Vinícius)
+ Pequenas modificações.                  

Jc.
São Luís, 22/8/2016





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