Querer é Poder? A sentença goza de há muito, de foros de provérbio consumado. Mas, exprimirá de fato uma verdade? Eis a questão. A nossa ver, empregaríamos o verbo saber em lugar do verbo querer, e diríamos, então: Saber é poder. Esta máxima e uma verdade absoluta.
Aquele que sabe pode, porém
o que ignora não pode, ainda que queira. Há muita gente que procura com afinco
realizar seu “querer”, por qualquer meio, desprezando precisamente o processo
seguro do êxito: o saber. Daí os fracassos, o desânimo, a descrença e o
pessimismo de muitos.
Jesus apresentou-se ao mundo
no caráter de mestre, e, como tal, teve discípulos. Sua missão era educadora.
Ser cristão é matricular-se nessa escola e aprender com ele a ciência do bem e
da verdade. Instruir-vos, moralizai-vos; tal é o lema que se deveria gravar no
pórtico dos modernos templos cristãos. “Pedis e não recebeis: não recebeis
porque não sabeis pedir”, disse o Mestre. A questão, pois, é de saber. Saber é poder, repetimos; aquele que sabe,
pode.
Mãe. Donde virá a magia que esse nome encerra?
Mãe!... Porque será que, somente ao
pronunciá-lo, um sentimento profundo e santo de respeito nos invade a alma?
Donde lhe vem o culto que se lhe presta e a homenagem que lhe rendem todos, mesmos
aqueles cujos caracteres ainda se ressentem de graves senões? Porque será que a
simples palavra -- mãe, tão singela, tão
humilde, que só três letras requer, tem o privilégio maravilhoso de fazer vibrar os sentimentos mais nobres,
por mais embotados que estes estejam?
O que há nesse nome de
extraordinário não está nas letras, mas
no sentimento que ele inspira. Mãe quer dizer abnegação, afeto, desvelo,
carinho, renúncia, sacrifício, -- amor numa palavra. Daí a origem de sua fascinação,
de seu prestígio, de sua força e encanto.
Ser mão não se resume ao
fenômeno fisiológico da maternidade. Ser mãe é possuir aquelas virtudes, e
proceder em tudo consoante o influxo que das mesmas deriva. A legitimidade do
título vem, pois, da moral e não do físico, da alma e não do corpo. Há mulheres
que geram filhos sem jamais se tornarem mães. Outras há que são mães de filhos
que nunca tiveram, a exemplo de Maria que passou a ser mãe de João, e este, seu
filho, por indicação de Jesus.
As Três Afirmativas de
Jesus. Eu Sou o Caminho,
porque já fiz o percurso que ainda não fizestes; posso, portanto, ser, como de
fato sou vosso guia, vosso roteiro, vosso mestre. Ninguém vos poderá conduzir ou orientar senão eu mesmo, porque
nenhum outro, de todos os que vieram à Terra, jamais fez o trajeto que conduz
ao Pai. Por isso vos digo: ninguém realiza os eternos destinos, senão me
acompanhando e seguindo as minhas pegadas.
Sou a Verdade, porque
não fale de mim mesmo, não fantasio como
fazem os homens que buscam seus próprios interesses e sua própria glória; só
falo o que ouvi e aprendi com o Pai, agindo como seu oráculo, como seu verbo
encarnado.
Sou a Vida, porque
sou ressurgido, dominei a matéria, sou imortal, tenho vida em mim mesmo. Não
sou como os homens cuja existência efêmera e instável depende de circunstâncias
externas.
Nem Frio Nem Quente. É do educador Hilário Ribeiro esta sentença
bem sugestiva: “Não basta ter coração, é
preciso ter bom coração.” Tal pensamento
sugere outro, ainda que menos poético: “Não basta deixar o mal; é preciso fazer
o bem.”
Há pessoas cuja existência,
não oferecendo margem para qualquer
censura, não deixa também transparecer o mínimo vestígio de abnegação, de
coragem ou de altruísmo. Tudo nesses homens obedece a um cálculo prévio e seguro.
Seus atos são medidos, suas palavras destituídas de arroubo; são serenas como o
arrulhar das rolas. Seus gestos são como o movimento de um pêndulo. Agem em
tudo e por tudo consoante um programa preestabelecido, e de acordo com certo
interesse vital de seu foro íntimo.
Outros homens há que são o
reverso da medalha, isto é, em cuja existência se notam várias lacunas, em
cujos procedimentos há falhas sensíveis,
mas ao lado desses senões, se descobrem rasgos sublimes de generosidade, traços
de coragem, atitudes de heroísmo e exemplos de bondade que edificam.
Os primeiros são incapazes de fazer o mal, como são incapazes de fazer o
bem. Os segundos são capazes, tanto de fazer o mal como o bem. No entanto,
podemos dizer, sem receio de errar, que estes últimos estão mais perto de Deus
e da sua justiça, que os primeiros. A mensagem do anjo revelador do Apocalipse
reza o seguinte: “Sei as tuas obras; já vi que não és frio ou quente. Oxalá
fosse frio ou quente; mas és morno.” Há
homens que não são nem frio nem quentes, são também mornos. O caráter morno ou
medíocre dificilmente se modifica. Trás as cordas do sentimento frouxas como
aqueles dois clérigos da Parábola do Bom Samaritano, passando ao largo do
viajor espoliado e ferido que jazia à beira da estrada.
O caráter ardente é capaz de
transformações e grandes surtos de progresso. É o que se verifica com o convertido
de Damasco. Quando Saulo era fanático, e, como tal, capaz das maiores
iniquidades, foi convertido e como Paulo, revelou-se um herói na defesa da
verdade, um mártir na propaganda da nova fé abraçada.
Maria de Magdala é outro
exemplo de nossa asserção. Era uma
mulher de costumes dissolutos, uma pecadora; porém possuía um coração ardente,
cujas fibras vibravam intensamente. Daí a sua transformação súbita, chegando a
merecer as simpatias do Mestre. Por que se deu aquela radical mudança? Porque
se tratava de uma alma vibrante, de um coração sensível capaz de se inflamar ao
primeiro convite do Céu.
A Túnica Inconsútil. A túnica usada por Jesus era inconsútil: não
tinha costuras. Vemos nessa veste do Senhor um símbolo que se aplica à sua
Doutrina. O Cristianismo é um corpo doutrinário sem remendos, sem peças
justapostas. É um todo harmônico,
inteiriço, perfeito. A moral de Jesus não tem aspectos divergentes, não tem
ambiguidades, não tem contradições. É uma moral pura, sã, completa, imaculada.
Ele não emitiu sons discordantes, não enunciou frases dúbias, não articulou
palavras ocas, não produziu coisas confusas. Foi claro, conciso, positivo e
firme.
Donde vêm, então, as
intermináveis cisões entre os credos que militam e dizem participar do
Cristianismo? De onde parte essa confusão, existente no seio dessas igrejas,
que se dizem cristãs, adotando doutrinas e princípios que não foram ensinados
por Jesus? Donde vem essa rivalidade entre aqueles que deveriam ser exemplos de
cordura, de harmonia e paz? Certamente a rivalidade, a confusão, vem da
ignorância, do orgulho e do preconceito dessas igrejas que do Cristianismo,
adotaram somente o título. Tem origem na ambição, no egoísmo do ser humano que
tudo procura amoldar às exigências insaciáveis de seus mesquinhos interesses.
Enquanto as religiões
continuam a se degladiarem, querendo cada uma se sobrepor as outras, estarão
com isso, demonstrando não haverem
atingido o ideal sublime da religião do
amor. A túnica do príncipe da paz, não tem costuras, sendo o símbolo da união
integral e perfeita, e a imagem da harmonia e confraternização irmanando os
seres humanos numa só e única família.
A Luz de Todos os Tempos. Em tempos idos, usava-se para iluminação o
azeite recolhido em recipientes desengonçados aos quais de dava o nome de
candeeiro. A luz que dele se irradiava
era fumegante, baça e fétida. Impregnava
a atmosfera de fumo e de odor nauseabundo. Mais tarde, passou-se a
empregar para o mesmo fim o querosene do petróleo. Os lampiões, aparelhos
elegantes possuíam melhoramentos apreciáveis como a mecânica destinada a
graduar a chama; substituiu os candeeiros.
Descobriu-se depois, no correr
do tempo, o processo de extrair do carvão de pedra o carbureto de hidrogênio
que substituiu o petróleo, e foi empregado tanto na iluminação pública como
residencial. Mas ainda não era tudo. O mundo continuou marchando na conquista do
melhor. Aparece, finalmente, a eletricidade destronando o gás. A luz desta
sobrepujou com vantagens indiscutíveis:
Era clara, límpida, inócua, e inodora. O gás foi relegado por sua vez. A
eletricidade passou a ser o sol de nossas noites.
Ora, se em matéria de luz
artificial se verifica um progresso contínuo, sucedendo-se os sistemas numa ascensão para melhor, não há de suceder o mesmo no que
respeita à luz espiritual? Se iluminar o interior não será, por acaso, um
problema mais sério e mais importante que iluminar o exterior? Afastar as
trevas do cérebro e do coração não será trabalho mais valioso que afastar as
trevas que nos envolvem por fora? Como então descuidar da conquista do melhor,
no gênero de luz espiritual, se tudo foi feito para alcançar o melhor no gênero
de luz material? Se, deixamos o azeite pelo petróleo, desde para o gás e depois
pela eletricidade, por que então não fazer o mesmo com relação aos velhos
dogmas que herdamos dos nossos
antepassados?
Que a Humanidade tateia na
tenebrosa escuridão da ignorância, do vício e do crime, quem ousará negá-lo?
Por que fazer tudo pela luz que perece, e nada, ou quase nada, pela luz que
vivifica? Volvamos, portanto, nossas atenções para a luz espiritual;
busquemo-la, com o interesse de quem se acha no escuro, e que tem necessidade
da luz de verdade, e seremos saciados.
Devemos nos desvencilhar dos
dogmas arcaicos, dos preconceitos
e da crendice boba, das
atitudes dúbias e hipócritas, das mentiras convencionais e procuremos
obter uma luz cada vez mais intensa e brilhante, para iluminar nossa
existência e nossa vida espiritual.
Evolução. A
vida é sempre vida seja qual for á forma através da qual se oculte. Já existi
como pedra, já vivi como planta, hoje
vivo como homem, amanhã viverei como espírito, e, no futuro, viverei como anjo.
Vim do pequeno, caminho para o grande. Se vivo agora é porque vivi outrora e
viverei para sempre.
Se noutras épocas eu tive
outro nome, pertenci a outras famílias, habitei outras cidades, fui diferente,
que importa? Eu nasci, senti, pensei, sofri, gozei, amei, tal como faço
atualmente. Perdi minha individualidade? Não!
Minha individualidade é o meu ser, o meu “eu”, sede da minha
inteligência, da minha razão, da minha consciência e dos meus sentimentos como
espírito que sou. O que perdi outrora, não foi minha individualidade, mas a
aparência e a veste com que então me servi no corpo físico.
Nesta nova existência, a
minha aparência já se modificou. Casos há em que os pais desconhecem os filhos
quando ausentes por muito tempo, tais as mudanças operadas em seu físico. Basta
que permaneçam, por muito tempo, separados de nós para que notemos profundas
alterações em seu exterior. A vida é a manifestação da vontade suprema de Deus;
ela é instável enquanto se apresenta em aspectos materiais; é eterna quando,
ressurgindo da carne, se perpetua como Espírito.
Negar a imortalidade é negar
a própria existência. Se eu vivo, como não viverei depois? Mas e a morte? Se a
morte tem poder para me destruir, como se explica eu ter morrido muitas vezes e
não ter, contudo, sido aniquilado? Dirão os que não acreditam na imortalidade,
que eu estou delirando! Pois bem,
expliquem-me, então, como é que trago e conservo comigo lembranças do meu
passado? Tudo o que vive, viveu e viverá novamente; morrer é libertar-se do
corpo físico e passar de um estado para outro; é despir uma forma (veste) para
revestir outra, subindo de uma escala inferior para outra superior. “Nascer,
viver, morrer, renascer ainda, progredindo sempre, tal é a Lei”.
Salvar é Educar. Jesus é o Mestre, e como tal veio ao mundo educar
a Humanidade para salvar o homem, através da educação. Imaginar-se a obra da
salvação, separada da educação, é utopia dogmática incompatível com a
orientação de Jesus.
Ser cristão não é uma
questão de modo de crer: é uma questão de caráter. Não é o batismo, nem a
filiação a uma religião que faz o cristão; mas o caráter íntegro, firme e
consolidado no trabalho de autoeducação e de amor ao próximo. A sociedade contemporânea necessita de uma
força purificadora que a levante da degradação e do caos em que se encontra.
Essa força deve atuar de dentro para fora, do interior para o exterior
melhorando os sentimentos, despertando a razão e a consciência moral dos seres
humanos. Tudo o mais são paliativos, quimeras, que jamais resolverão os graves
problemas do momento atual.
O Cristianismo puro, tal
como Jesus pregou e exemplificou, será a força que há de reformar a sociedade
agindo nos corações e nos lares. É do coração renovado, é do lar convertido em
templo de luz e de amor que surgirá a aurora de uma nova sociedade para a
Humanidade. . .
O Bom Senso. O pedreiro no desempenho do seu labor lança
mão do prumo e do nível; o navegante tem os olhos na bússola que lhe dirige o
caminho. Manejando o leme, aparelho simples e de pouca aparência, o timoneiro
imprime a direção singrando a imensidão dos mares. Graças aos movimentos do
pêndulo, os relógios marcam, com exatidão, as horas do tempo.
Da mesma sorte, existe algo
no ser humano que orienta seus passos, que determina a natureza de sua conduta,
que regula seus passos, suas palavras e seus sentimentos: é o bom senso. Sem
esse predicado, tão modesto que qualquer pessoa pode possuir, o ser humano é o
pedreiro sem prumo e nível, o barco sem
leme, o navegante sem bússola e o
relógio sem o pêndulo. O bom senso é que
valoriza as qualidades do espírito. Que valor tem a inteligência, o saber e a
erudição, sem uma dose, ao menos, de bom senso?
Por que há pessoas que
ganham pouco e vivem bem, enquanto outras ganham muito e vivem mal? É porque aquelas têm, e estas não têm o bom
senso necessário para equilibrar a receita com a despesa. A própria fé, despida
do bom senso, ao invés de elevar o crente aos paramos da luz, precipita-o nas
confusões do fanatismo.
A capacidade de ajuizar e
discernir com acerto, o critério, o bom senso, em suma, é um predicado
suscetível de ser desenvolvido como
qualquer outro, dependendo da educação do nosso espírito. O que denominamos
inteligência, razão, consciência, vontade, bom senso, etc., não passa em
realidade, de manifestações do espírito, que é tudo no ser humano. A Doutrina
dos Espíritos, restaurando o verdadeiro Cristianismo, é a religião do Espírito.
Flammarion, apelidando Allan Kardec de “bom
senso encarnado”, falou como um verdadeiro profeta.
Os Filhos de Deus. A qualidade de filho pressupõe a de herdeiro.
Os filhos herdam dos pais; herdam em todo sentido: -- moral e material. Do
físico, herdam traços fisiológicos que recordam os pais. Da moral, pela
convivência, pela educação e pelo exemplo, herdam predicados e virtudes. É por
isso que certas crianças, logo à primeira vista, despertam nas outras pessoas a
lembrança de seus pais. Essa aparência, às vezes, acha-se tão em harmonia com o
astral dos pais que parece fundir-se na figura do filho.
Segunda a palavra
evangélica, o ser humano torna-se filho de Deus somente depois que aceita e põe
em prática a moral divina revelada por Jesus. Deus é Espírito, e em espírito e
verdade deve ser evocado. Como pode, portanto, o homem ser filho de Deus sem
que reflita a imagem espiritual do Pai? Como pode ser filho de Deus se ainda
não herdou os predicados e atributos que exprimem o caráter da Divindade?
Como pode o homem ser filho
de Deus – que é puro Espírito – se ele é todo animalidade nada deixando
transparecer de espiritual? Em verdade, como acertadamente ensina o Evangelho,
o ser humano só se tornará filho de Deus, quando seguir nas pegadas do Mestre
Jesus e se decidir a respeitar e praticar, (ou, ao menos tentar), as leis
divinas que seu Filho Bem Amado, as ensinou e também exemplificou, durante sua
jornada terrena. Até chegar a esse estágio, o homem será apenas uma criação de
Deus. . .
Fonte:
Livro
“Nas Pegadas do Mestre”
+
Acréscimos e supressões
Jc.
São Luís, 28/7/2016
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