Dados recentes do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) indicam que o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) avançou no Brasil. Porém, entre os três itens analisados – longevidade, renda e instrução – o que menos cresceu foi o último. Ainda é um grande desafio qualificar o ensino público e garantir que os alunos aprendam, após anos de escola. Em outubro, quando comemoramos o dia dos professores(as), acreditamos ser uma oportunidade de refletir sobre as mudanças necessárias à instrução e sobre a importância de valorizar os professores(as). E para isso, fizemos alguns questionamentos ao professor Pedro Demo, da Universidade de Brasília.
a- Como está a instrução no
Brasil, comparada a de outros países?
R- Infelizmente, na
comparação internacional nós temos uma imagem muito deficitária. Nossos dados
nos aproximam de certa forma mais da África. No IDH estamos no 85º lugar, sendo
um dos mais baixos da América Latina. Temos tido muita dificuldade de melhorar,
porque a nossa escola pública, que abriga 95% dos alunos no Ensino Fundamental,
é assim como uma coisa de pobre para pobre. O Brasil não está cuidando do
professor. Aqui, o professor é uma das
piores profissões que a sociedade oferece. O piso salarial é completamente
inaceitável. Todas as grandes mudanças que se fizeram, por exemplo, nos países
asiáticos – Japão, Coréia e Singapura – que disputam o melhor lugar no mundo em
termos de desempenho, começaram pelo professor. Eles montaram uma bela
carreira, atrativa, que pega as melhores cabeças da sociedade. Podemos ver, na
cara deles, que valeu a pena, enquanto aqui, nós não conseguimos avançar.
b- Mas tivemos avanços,
sobretudo na questão da avaliação.
R- Sim, criamos alguns
sistemas de avaliação, mas que mostram que nós estamos indo muito devagar. Nós
temos um sistema de ensino que não
consegue progredir. Ele é feito para dar aula e não é feito para o aluno
aprender. Nós temos muitas aulas; aulas de tudo que é jeito, mas não é voltada
e nem satisfaz a aprendizagem do aluno, em virtude da grande maioria de
matérias.
c- Existe uma movimentação da sociedade por mais
investimentos na instrução. Isso pode resolver?
R- Isso também é angustiante porque todo mundo
quer que seja
destinado mais dinheiro para
a instrução, mas muitas vezes, ele é jogado fora. Não adianta investir na escola
que temos hoje, porque é uma escola onde não se aprende. Precisamos recomeçar
como os Tigres Asiáticos, reinventando o professor e reinventando a escola. Aí
sim, vale a pena pedir 10% do orçamento e será um grande investimento. O que
favorece o desenvolvimento de um país é uma população bem qualificada, que nós
não temos. Para termos uma ideia, o
movimento “Tudo pela Instrução”, apresentou um dado de que, chegando ao fim do
Ensino Médio, só 10% sabiam Matemática. Isto significa 12 anos de estudo para
10% de uma matéria essencial. É um país que não se desenvolve e quer fazer
parte do Primeiro Mundo.
d- As diversidades regionais do nosso país não
são um agravante para os nossos problemas?
R- Isso complica sim, porque é um país muito
diverso e precisa de muitos esforços diversificados, além de consumir também
muitos recursos. Isso não é um problema
de outro mundo, porque outros países grandes superaram essa dificuldade. O
problema maior é nosso sistema de ensino. Existem dados que mostram que quando
se aumentam as aulas e as matérias, os alunos, em geral, aprendem menos. O
aluno não vai para a escola para escutar.
Ele vai para escrever, para produzir, para fazer o seu conhecimento. Ele
não quer ficar como um ouvinte a copiar as coisas. Todos sabem que isso está
errado, mas continuam insistindo nisso.
e- Que modelos existem no mundo que deveríamos
seguir?
R- Penso que todo país, de certa maneira,
precisa inventar a sua proposta. Nós não podemos ficar apenas copiando. Por
exemplo: Singapura teve muito êxito. Á
30 anos atrás, ela não era nada e agora tem um dos melhores desempenhos do
mundo. O que se pode aprender é que Singapura fez uma proposta própria. Foi
valorizado o professor e optaram por uma escola onde o aluno realmente aprende.
Eles abandonaram a ideia do ensino e só ficaram com a aprendizagem. O que temos
aqui de sobra na escola são aulas, e o que tem de menos é a aprendizagem.
f- O que significa ensino e o que significa
aprendizagem?
R- O ensino tem muito de adestramento. Nem a
cidadania aparece. A aprendizagem é uma ação mais centrada no aluno. Sabemos
que o aluno aprende bem quando o professor aprendeu bem e motiva bem. Na
verdade, é um movimento que o professor(a)
motiva fora,
mas precisa acontecer
dentro, na cabeça do aluno e da sociedade. Essa virada é muito importante, pois
teria que mudar muito a formação original. O bom professor(a) é aquele que
ganha bem, sabe pesquisar, sabe produzir, tem bom texto próprio e é um
protagonista da sociedade do conhecimento.
g- E o currículo?
R- O currículo é uma organização oficial dos
conteúdos que imaginamos necessário para cada ano. Há uma tendência atual para
reduzir a carga curricular. Por exemplo, no Japão, para o estudo da Matemática
é adotado dez tópicos, mas fazem bem os dez. Eles fazem gincana e muita
competição sobre a Matemática, enquanto o
Brasil adota 40 ou 50
tópicos. Entopem os alunos e no final
eles pouco aprendem. A Matemática no Brasil ainda é um horror e querem entrar
para o Primeiro Mundo, sem Matemática?
h- Mas nós estamos seguindo alguns modelos?
R- O nosso modelo é: Na escola se faz
treinamento, mas não aprendizado, não formação, porque o aluno fica escutando
aula, tomando nota e fazendo provinha, e isso servia para o século passado, mas
não para o século futuro. Estamos muito distante das novas tecnologias, e há
uma grande resistência da pedagogia e do governo, insistindo que os cursos têm
que ser presenciais. A nova tecnologia está aí e todo mundo precisa se
familiarizar com o computador e Internet, sobretudo as crianças que vão viver
nesse mundo. Nós erramos, achando que colocar o computador na escola resolve. A
primeira inclusão tem que ser do professor(a), porque ele é que tem de decidir
o que fazer e evitar os riscos que o mesmo possa trazer para a criança. Toda
mudança na escola com alguma profundidade tem que passar pelo professor(a).
I- Fala-se em autoria. O que significa isso?
R- A questão da autoria está em moda no mundo
porque recebeu um empurrão das novas tecnologias e está baseada na produção de
conteúdo próprio. O importante é aprender a fazer texto próprio, é construir
suas coisas e não ficar escutando aula, copiando, repassando. Não adianta estar
numa escola onde o aluno não é convidado a fazer a sua produção, onde participa
apenas para escutar e fazer provinha. Nós estamos na contramão da história e ficando para trás, e a
dificuldade que temos hoje de crescimento da economia já é um reflexo dessa
situação.
O que diz o governo sobre a
reforma do Ensino Médio.
1- Propõe modificações estruturais, como a
reforma da carga horária, redução do
número de disciplinas e mudança nos currículos. O governo alega que as mudanças
tiveram como base as metas de qualidade do ensino médio, que estão abaixo do
ideal e também como uma forma de combater a evasão escolar.
2- Ampliar a carga horária de aulas que hoje é
de 800 horas, para 1.400 horas;
3- Que a partir da metade do segundo ano do
ensino médio, o aluno terá a possibilidade de escolher quais as matérias quer
estudar, conforme seu interesse e visando seu objetivo profissional;
4- O governo chegou ainda a divulgar que
excluiria do currículo obrigatório,
disciplinas como Artes, Sociologia, Filosofia e Educação Física, mas depois
afirmou em nota, que o texto da
Medida Provisória estava errado.
5- Do que a Base Nacional definir, todas elas
serão obrigatórias na parte da Base Nacional Comum: Artes, Educação Física,
Português, Matemática, Física e Química. Ela será obrigatória a todos. A
diferença é que quando for feita as ênfases, pode ser colocado somente os
alunos que tenham interesse em seguir naquela área. Vamos inclusive,
privilegiar professores e alunos com a opção do aprofundamento.
6- Segundo o governo não é obrigatório iniciar
as mudanças em 2017 e nem há um prazo definido, e as redes estaduais é que vão
definir de que forma e quando vão incorporar o novo modelo proposto. Ainda de
acordo com o Ministro, até o fim de 2018, será investido R$- 1,5 bilhão no
ensino para dobrar o número de alunos em escolas de tempo integral, para chegar
a 500 mil novos estudantes.
Comentários:
O senador Cristovam Buarque,
concorda com as alterações no currículo, (vide
negrito), entretanto, faz um alerta de que não adianta mudar os currículos;
deve haver uma reestruturação e modernização das escolas, como por exemplo:
Investimentos em tecnologias e acesso à Internet no dia a dia do estudante.
Para a senadora Fátima
Bezerra, vice-presidente da Comissão de Educação, é “totalmente inoportuno
tratar de um tema desse porte, via Medida Provisória. Isso é um desrespeito aos
professores, aos estudantes e a sociedade, porque nós precisamos enfrentar as
estruturas no campo da educação pública, no ensino médio, através do debate com
a sociedade, que envolva os estudantes, suas famílias, os professores(as) e os
especialistas.”
A presidente do “Movimento
Todos pela Educação”, Priscila Cruz, disse na Câmara dos Deputados, que um dos
maiores erros históricos do Brasil, foi não ter colocado a educação (instrução)
como prioridade e parte integrante do desenvolvimento do país...
Meu comentário:
Observei que o governo ao tratar das mudanças
no ensino, comentou as aulas, os currículos, a carga horária, redução no
número das disciplinas e mudanças nos currículos, ampliação da carga horária, e
diz que vai privilegiar os professores(as) e os alunos com a opção do
aprofundamento, mas esqueceu de tratar de outros itens, como:
a- Como ficariam os professores das matérias que
foram extintas;
b- Por que os governos ao exigir tanto dos professores e culpá-los pelas
deficiências e o fracasso do ensino, esquecem de criar meios para a melhoria do
ensino tornando viável as escolas e mantendo os materiais didáticos e
tecnológicos atualizados, para o melhor desempenho do ensino aos alunos;
c- Por que a maioria das escolas estão em
péssimas condições; algumas com as instalações completamente destruídas, outras
sem as mínimas condições de funcionamento, muitas escolas sem professores, e
outras escolas onde os professores sofrem agressões verbais e físicas, fatores
esses que vem ocasionando o desestímulo da profissão e a evasão dos alunos;
d- A profissão de professor(a) é tão
desprestigiada e desvalorizada que está
ocasiona a falta dos profissionais nas escolas, principalmente por ser considerado
o “bode expiatório” do ensino, e ainda pelo baixo salário oferecido que;
somente atrai quem está procurando o primeiro emprego, é que se candidata a
exercer essa profissão.
e-
Por que o setor educacional não cria um
projeto pedagógico que venha sempre
capacitando os professores(as) através da formação continuada e dando-lhes a estabilidade financeira, para que eles possam dedicar-se ainda mais ao
seu trabalho, de esclarecer e iluminar as mentes dos seus alunos, para melhorar o IDH
do país.
f- O aluno atualmente é obrigado a carregar um
grande peso de livros e outros objetos, para promover o seu estudo, ficando as
vezes completamente aturdido com tantas matérias que não consegue absorvê-las,
e em grande parte, fica desestimulado a continuar os estudos.
g- A minha esposa é formada em Pedagogia, em
nível superior, com mais de 35 anos de atividades na área do ensino, e seu
salário atual é de R$-1.637,50 mensal, com mais uns adicionais. Em virtude
disso, ela faz jornada extra de trabalho, em outra escola, para melhorar o seu
rendimento. A minha cunhada que é formada em Letras, com nível superior, também
está na mesma situação, tendo que fazer dobrada para melhorar seu salário. Assim
como elas, existem milhares de outros professores que fazem da mesma maneira,
para melhorar o salário que todos sabem é irrisório para os profissionais do
ensino, assim como para os enfermeiros(as), duas classes trabalhadoras que são
essenciais para o país.
Fontes:
Revista
“Mundo Jovem” – nº 441
Comentários
Página
do Governo, na Internet
Meu
comentário
Diversas
modificações.
Jc.
São
Luís, 26/9/2016
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