terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

O CARNAVAL E A DOUTRINA DOS ESPÍRITOS




  Está chegando novamente o período do carnaval, com suas alegrias e mazelas. O carnaval tem sua origem no paganismo, com suas orgias e nele predomina a licenciosidade e o império da carne. O carnaval traz grandes prejuízos materiais, morais e espirituais às criaturas humanas, pois nos quatro dias de festa, que começa muito antes e termina muito depois, aumentam as ocorrências policiais, como estupros, roubos, furtos, brigas, violência, mortes e um cortejo enorme de crimes cujas conseqüências são irreparáveis. O carnaval é uma festa de origem pagã que foi oficializada pela Igreja Católica e que, por motivos políticos, permanece até os nossos dias, gozando da simpatia dos governantes e de grande parcela do povo. Todos os anos nos meses de fevereiro ou março, ele é incluído no calendário e chega até nós.

Historiadores não têm como precisar quando se iniciaram as festas carnavalescas; os estudiosos do assunto falam que seu início ocorreu aproximadamente no IV milênio A/C, quando no Egito foram criados os cultos agrários. Nessa época, as pessoas dançavam com máscaras e adereços em torno de fogueiras. Os romanos tinham muitos escravos e como o mês de dezembro era dedicado aos festejos em homenagem a várias divindades, entre elas Saturno, deus do tempo, os senhores davam liberdade aos servos para comemoração das saturnais. Era comum um desfile pelas ruas da cidade em que conduziam um carro em forma de barco, com a estátua do deus, pois Saturno se ligava também ao mar. Era uma espécie de carro/barco, sobre rodas; daí o nome carrum-navalis, que deu origem a palavra carnaval. Os servos sentindo-se à vontade usavam roupas dos seus amos, valendo-se de máscaras para não serem reconhecidos. Cometiam-se excessos; pois o inverno iria chegar e todos ficariam recolhidos, devido ao frio intenso do hemisfério norte.

 A Igreja Católica, com o passar dos séculos, foi “empurrando” as saturnais para diante, tirando-as de dezembro, para que tais orgias se afastassem da data determinada para o nascimento do Cristo, fazendo delas uma interpretação associada a um período de pecado, que antecederia no calendário litúrgico a Quaresma – tempo de jejum e mortificações. Surgiu então dessa intervenção da Igreja, a idéia de uma corruptela da palavra “a carne nada vale”.  Tempos depois surge o carnaval pagão, que se inicia no século VII A/C, na Grécia. No reinado de Pisistrato foi oficializado o culto a Dionísio, onde camponeses e lavradores participavam das procissões dionisíacas, levando a imagem do deus Dionísio. Nessa época a sociedade já se dividia, ficando os escravos de um lado e a nobreza do outro lado; bebidas, orgias, sexo e permissividade ganhavam mais e mais espaços naquele primitivo carnaval. Mais alguns séculos se passaram e a Igreja Católica, cansada de ver suas intenções de proibir os cultos pagãos fracassarem, porquanto já estavam consagrados pelos costumes dos povos, resolve em 590 D/C, oficializar o carnaval. As células desse carnaval oficial se iniciaram nas cidades de Veneza e Nice, já com aparência dos dias atuais; com carros alegóricos, pessoas mascaradas, fantasias e desfiles.

Aqui no Brasil no Maranhão, nos meus tempos de criança, ainda lembro, era uma festa de alegria, onde as fantasias de dominós, pierrot, fofões, arlequim, columbina e outras mais, alegravam as casas, ruas e salões dos clubes. Formavam moças e rapazes, com suas fantasias, blocos e brincadeiras, desfilando pelas ruas em filas indianas, cantando e dançando; os fofões apavoravam as crianças com suas máscaras horríveis; os dominós, pierrot e outras fantasias enchiam os salões dos clubes, a desafiar quem fosse possível descobrir quem estava por baixo das máscaras; os corsos eram caminhões enfeitados e adaptados, imitando navios piratas, aviões, animais, desfilando pelas ruas, era a alegria do povo, assim como a “casinha da roça” e outras atrações. Faziam parte ainda da brincadeira, o confete, a serpentina, o reco-reco, os balões e o lança-perfume. Daqueles tempos bons só nos resta à lembrança...

Hoje, os festejos carnavalescos são outros. Muitas pessoas, em busca dos prazeres efêmeros proporcionados por esses dias endividam-se por todo o ano. Outras pessoas entregam-se aos vícios da bebida; outras mais, aos impulsos do sexo desregrado e irresponsável, aumentando a incidência de doenças transmissíveis, como a Aids, a sífilis, a tuberculose e outras. Clínicas, delegacias de polícia e hospitais ficam abarrotadas de pessoas que se excederam ou foram acidentadas nos folguedos.  Centenas de lares são atingidos pela desonra; a infâncias e a juventude são influenciadas pelos exemplos negativos expostos nas ruas e pelos órgãos de comunicação. Outras conseqüências se fazem sentir muito tempo depois; são os filhos gerados durante o carnaval, que nascem de mães solteiras sem ninguém como pai, e mais os casos das doenças transmissíveis que, segundo a Organização Mundial de Saúde, aumenta de ano para ano no Brasil.

Além destas mazelas, é comum antecederem o carnaval, o lançamento de músicas cujas letras imorais ou de cunho pornográfico nos afrontam, bem como a poluição sonora sem limites que nos prejudicam.  Existe ainda a poluição visual que invade nossos lares, através da televisão, nos trazendo as piores e mais imorais imagens. É comum a aparição de mulheres seminuas, que não se valorizam numa apelação vergonhosa como incentivo a mais depravação, desrespeitando a moral, os bons costumes, o estatuto da criança e do adolescente e os nossos sentimentos de cristãos.  Então perguntamos: Que liberdade é essa que permite o desrespeito a todos os nossos valores morais e nos leva de volta aos tempos de Sodoma e Gomorra? Onde estão os protestos das autoridades, principalmente dos juizados de menores e dos defensores da sociedade, inclusive as religiões tradicionais que, através de seus condutores, fracassaram na missão de evangelizar e moralizar seus seguidores, durante séculos e séculos de pregações?

Há um paradigma que teima em permanecer: a de que o carnaval e as fantasias são algo necessário à nossa cultura. E por isso, o carnaval aqui, ganhou status de grande indústria, sendo um dos maiores divulgadores de nossa cultura, promovendo assim o Brasil ao patamar de “O País do carnaval”. Como indústria, proporciona milhares de empregos temporários, movimenta nossa economia, atrai o turista e ajuda as indústrias de bebidas... Dizem alguns que é uma necessidade do povo brasileiro, um povo sofrido, batalhador, explorado pelo governo, que, portanto, merece esquecer os problemas; festejar...  o carnaval é o presente esperado.

Por alguns dias o povo se esquece das dificuldades, dos entraves de relacionamento, dos arrochos financeiros e parte para momentos de igualdade, onde ricos e pobres, brancos e pretos estão reunidos em perfeita sincronia. Essa é a tal igualdade com que sonham os pobres, as mulheres, os infelizes... Porém, endosso a opinião de que o carnaval é apenas uma grande ilusão!  Alegam alguns de que o carnaval é necessário à nossa cultura, como se o Brasil com sua imensidão de valores, de pessoas, de habilidades, de regiões, de pontos turísticos, de costumes diversos, ficasse refém dos festejos carnavalescos, para ser melhor e mais feliz.

Lamentavelmente, muitos brasileiros não compreendem a grandeza e a destinação do nosso País e o limitam apenas a carnaval e a futebol. Precisamos acabar com essa idéia de que o Brasil é apenas o país do carnaval e do futebol. O Brasil pode ser o país da cultura, da educação, da saúde, da tecnologia e da honestidade; isso só depende de nós; da nossa conscientização de que é necessário romper com esse estado de coisas. Vejamos então como está o nosso Brasil, desconhecido de muitos brasileiros:

1- Neste país existe a maior e mais avançada rede de captação de leite materno; 2- Somos exemplo no combate a Aids; 3- Somos no hemisfério sul o único país a participar do projeto “genoma”; 4- Nosso processo eleitoral é todo informatizado e o melhor do mundo; 5- Somos o segundo maior mercado de jatos e helicópteros executivos; 6- Somos o único país onde co-habitam em paz, todos os povos do mundo; 7- Somos o único país com tradições pacifistas; 8- É o país com a mais diversificada flora e fauna, e pulmão do mundo, e ainda, muito mais.

É ilusão julgar que seremos mais felizes em conseqüência dos festejos carnavalescos. É ilusão julgar que alguns dias de folia irão compensar o povo brasileiro por lhe faltar saúde, educação, emprego, qualidade de vida e cultura. O carnaval vende a ilusão de que aqueles dias não se acabarão, que são eternos por isso mesmo começa antes da data fixada e termina depois da data oficial. Vende a ilusão de que aproveitar é se intoxicar de bebidas e manter sexo, sem compromisso com o coração e a responsabilidade.

Poucas são as obras espíritas que focalizam com profundidade o problema do carnaval e suas mazelas. Uma delas é o livro “Nas Fronteiras da Loucura”, ditado pelo espírito de Manoel Philomeno de Miranda, valendo-se da psicografia de Divaldo Franco. Relata Manoel: “A cidade, regurgitava, era um verdadeiro pandemônio. Multidão de espíritos, que se misturavam aos seres humanos em excitação dos sentidos físicos dominava a paisagem na psicosfera carregada de vibrações de baixo teor. Muitas pessoas haviam obtido inspiração em visitas a regiões inferiores do além”. A sucessão de cenas, umas deprimentes, outras selvagens, era constrangedora, o que mereceu do Dr. Bezerra de Menezes, o seguinte comentário: “Expressiva faixa da humanidade terrena transita nos limites do instinto, mais sequiosos de sensações, do que ansiosos pelas emoções superiores, sendo de lamentar que muitos se apresentem nos dias normais, como discípulos de Jesus, mas preferindo no carnaval os excessos de Baco e das orgias”.

Nessa libertinagem, confundida com liberdade, onde tudo pode e tudo é consentido, as pessoas promovem desordens físicas e psíquicas, que ao longo dos anos vão minando a resistência física e se comprometendo espiritualmente, porquanto, sintonizam-se com espíritos que têm afinidade com ideais de desregramento. Se não lutarmos para nos desvencilhar desses grilhões de desatinos, seremos facilmente manipulados por esses espíritos desencarnados a nos influenciar, apenas porque deixamos a porta aberta, ao nos deleitar com os vícios e o desregramento de valores.
Façamos a caridade a nós mesmos nos livrando dos vícios, dos desregramentos, das noites de prazeres efêmeros, onde prejudicamos nosso corpo a pretexto de prazer. A melhor maneira de aproveitar a existência é viver seus momentos, com o melhor dos prazeres: o da consciência em paz, na certeza que fizemos o melhor por nós, por nossos entes queridos e por nossos semelhantes.

Façamos como milhares de pessoas que não se deixam envolver por esse festival e nem se interessam ante os apelos da folia de momo; pessoas essas  esclarecidos e moralizadas que utilizam esse período,  para descanso, estudo, leitura, meditação e encontro de renovação espiritual. Essa é uma tentativa de reverter à vibração negativa que impera nesses dias, servindo também para solidificar amizades e sentimentos nobres, bem como orações para ajudar os irmãos ainda necessitados, a elevarem-se moralmente e poderem seguir a jornada existencial com dignidade.

Que o Pai Celestial e o Mestre Amado Jesus, permitam que algum dia o “país do carnaval e do futebol” possa se transformar em um País que seja realmente o “Coração do Mundo e a Pátria do Evangelho”, conforme declarou o espírito do nosso saudoso conterrâneo Humberto de Campos... Que Jesus nos dê forças para nos livrarmos dessas tentações.

Bibliografia:
Jornal “Brasília Espírita”
Rita Core (Revista Espírita de Campos)
+ Acréscimos e modificações.

Jc.
Feito em l7/01/2010
Refeito em 21/02/2017

Nenhum comentário: