quinta-feira, 16 de março de 2017

QUEM DEVE SER JULGADO NO S.T.F. ?




  O maior foro privilegiado do mundo está no Brasil. Um levantamento inédito mostra, em detalhes, quantos brasileiros têm direito a foro privilegiado, que chegam a 37 mil detentores.
Supremo Tribunal Federal são:  849;  Superior Tribunal de Justiça  2.708;  Tribunais Regionais Federais  7.399;  Tribunais de Justiça  26.311.
S.T.F. com 11 magistrados julgam:  Presidente 1, Vice-presidente 1,  Senadores 81, Deputados Federais  513,  Ministros  31,  Procurador geral da República  1,  Comandantes Militares  3,  Ministros do Tribunal de Contas da União  9,  Chefes de Missões Diplomáticas 138,  Ministros de Tribunais Superiores  71.
S.T.J. com 33 magistrados julgam:  Governadores  27,  Membros dos TREs  135,  desembargadores  2.381,  Conselheiros dos TCEs e TCMs  165.
T.R.F.  com 133 magistrados, julgam:  Juízes federais  5.015, Membros do Ministério Público da União  2.384.
TRIBUNAIS DE JUSTIÇA COM 1.684 magistrados julgam:  Prefeitos  5.570,  Vice-prefeitos c/foro  305,  Vereadores com foro  3,472,  Vice-governadores com foro  22,  Secretários estaduais com foro  482,  Deputados estaduais  1.059,  Juízes estaduais 11.807,  Procuradores-gerais dos estados  27,  Procuradores–gerais de Justiça  27, Defensores públicos 3.340.
O FORO E AS CONDENAÇÕES O histórico mostra que há poucos casos de condenações criminais de políticos pelo Supremo Tribunal Federal. Políticos condenados no exercício do cargo, pelo STF entre 1968 e 2010 (excluídos crimes de opinião, como calúnia e injúria, ou de desacato à autoridade)  ZERO.  Segundo o estudo Supremo em Números, da Fundação Getúlio Vargas, de 404 ações penais, concluídas entre 2011 e março de 2016, apenas 3 terminaram em condenação.
No STF, a Lava Jato é mais lenta. O juiz Sérgio Moro julgou e condenou, sem foro privilegiado, 125 e absolveu 3. Teori Zavascki e Edison Fachin do STF, ainda não julgaram ninguém. Velam o quadro abaixo: 
AÇÕES                        1ª INSTÂNCIA      S. T. F.
Buscas/apreensões  .        730                  171 
Denúncias .      .      .      .       57                    20
Acusados  .      .      .      .     260                    68
Ações penais   .      .      .       57                      3
Sentenças .       .      .      .      25                      0
Condenações   .      .      .    125                       0
Absolvições      .      .      .        3                       0

O recorde brasileiro: Entre 20 países o Brasil tem o maior número de autoridades com foro privilegiado.  Eduardo Cunha e André Vargas foram presos apenas quando perderam o mandato e o foro privilegiado.

A Operação Lava Jato, com a proximidade da abertura de novos inquéritos  contra políticos, por causa da megadelação da Odebrecht, torna urgente o debate sobre a revisão do foro privilegiado.

PARADOXOS E CONTRADIÇÕES

O ministro Gilmar Mendes do STF, diz que o foro privilegiado preserva as instituições. “A ideia de que a primeira instância funciona bem, e o Supremo mal, é uma falácia.”  Os números, entretanto, provam o contrario.

Para o ministro Luís Roberto  Barroso, também do STF, “há problemas associados à morosidade, à impunidade e à impropriedade de uma Suprema Corte ocupar-se como primeira instância, de centenas de processos criminais. Não é assim em parte alguma do mundo democrático.”

Fernando Pimentel, governador de Minas Gerais também é um dos que tem foro no STJ e só poderá ser processado se a Assembleia Legislativa mineira  der autorização para tal.

COM FORO E SEM DECORO. O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), que comparou o foro privilegiado a uma “suruba”,  pediu desculpa  pelo termo, mas não abre mão da prerrogativa.

A revista Época encontrou cerca de 37 mil detentores de foro. Para Roberto Veloso, presidente da Associação dos Juízes Federais do Brasil  o  número é  ainda  maior: 45 mil pessoas.
Rodrigo Janot  pede ao STF o fim do sigilo das delações.
Em 30 de janeiro, a presidente  do STF, ministra Carmem Lúcia, homologou 950 depoimentos de 77 delatores  da  Odebrecht.
Os ministros Celso de Melo e Marco Aurélio Mello são  mais radicais: defendem o fim do foro privilegiado para todos. “Não  se julga o cargo, julga-se o ocupante do cargo  que cometeu o desvio de conduta”, diz Marco Aurélio. “Todos são iguais perante a Lei e não há razão para tratamento diferenciado”, diz Celso de Melo.

“Em (14/3), o Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot,  enviou ao S.T.F., uma relação com 320 pedidos, com base nas delações premiadas de 78 executivos da Odebrecht, sendo 83 pedidos de abertura de inquéritos; 211 declínios de competência para outras instâncias da Justiça, nos casos que envolvem pessoas sem foro privilegiado; 7 pedidos de arquivamento e 19 de outras providências, onde estão incluídos 5 ministros do atual presidente da República, que são:  Eliseu Padilha, da Casa Civil;  Moreira Franco, da Secretaria Geral da Presidência;  Gilberto Kassab, das Comunicações;  Bruno Araújo, das Cidades;  Aluysio Nunes das Relações Exteriores.

Além disso, a lista de Janot inclui os ex-presidentes Lula e Dilma e os ex-ministros Antônio Palocci e Guido Mantega, que perderam o foro privilegiado e os processos devem ser remetidos à primeira instância.  O Estadão apurou ainda a inclusão na lista, de diversos aliados importantes no Congresso, que são:  O presidente da Câmara, Rodrigo Maia;  o presidente do Senado, Eunício Oliveira;  além dos senadores, Edison Lobão, Renan Calheiros;  Romero Jucá,  Aécio Neves  e  José Serra, que estão entre os 83 inquéritos cuja abertura foi pedida pela  Procuradoria Geral da República.”

Fonte:
Jornal “O Estadão”
Artigo extraído da Internet (MNS-notícias)

Dificilmente o Supremo, historicamente dedicado a julgar recursos e a constitucionalidade de leis, terá capacidade para processar a julgar tanta gente. É real o risco de criminosos saírem impunes pela prescrição de seus crimes.

“Ao ser promulgada a Constituição de 1988, ninguém esperava que, um dia, metade do Congresso  estaria sob investigação do Supremo”,  diz o jurista Maurício Zanoide de Moraes, doutor em Direito pela Universidade de São Paulo.

“De ver triunfar tanta iniquidade (principalmente de quem deveriam dar os exemplos, nós participantes do povo, sem foro privilegiado) sentimos vergonha de sermos honestos, neste país abençoado por Deus e de políticos tão corruptos  e sem vergonha...”

(Parodiando o eminente tribuno Ruy Barbosa)

Fonte:
Revista “Época” – nº 975 -  27/2/2017
Reportagem de Guilherme Evelin,
Paula Soprana, Gabriela Varella,
Nelson Niero Neto e Daniele Amorim.

Jc.
São Luís, 16/3/2017

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